Título: Do coma a uma vida nomal, em 17 anos
Autor: Suwwan, Leila
Fonte: O Globo, 26/11/2008, Ciência, p. 32

Paciente que chegou a ser desenganado hoje milita no movimento social de Aids

BRASÍLIA. Desde que recebeu seu diagnóstico, há 17 anos, Claudinei Alves Pereira, 37, já passou pelo elenco de dificuldades que fazem parte da vida de pacientes de Aids. Aos 20 anos, ficou em estado semivegetativo devido a uma tuberculose e chegou a pesar 46 quilos. Usuário de drogas, à época recorreu a elas depois de ser desenganado por médicos. Perdeu o emprego como chefe de cozinha, passou pelo AZT e hoje milita no movimento social de pessoas com Aids.

¿ Falar de sobreviver é coisa dos anos 80. Hoje nós vivemos com Aids, e vivemos bem. Mas ainda não dá pra falar de sobrevida ótima. Há ainda problemas ¿ afirma Claudinei. ¿ Temos os antiretrovirais gratuitos, mas ainda faltam tratamento e acompanhamento mais completos para outros problemas médicos voltados para pessoas que vivem com Aids.

A qualidade de vida, segundo ele, esbarra também na inserção no mercado de trabalho. Empregadores resistem a contratar soropositivos, muitas vezes por preconceito ou falta de informação.

¿ Faltam políticas públicas de informação voltadas ao mercado de trabalho ¿ aponta ele. ¿ O empregador engaveta o currículo quando se menciona alguma necessidade de saúde especial relacionada à Aids. E não há como não informar isso para o futuro chefe.

Efeitos colaterais severos são pouco discutidos

Para Claudinei, uma das grandes preocupações é que as melhorias alcançadas na qualidade de vida dos pacientes podem ter o efeito adverso de deixar os mais jovens menos atentos, uma vez que desconhecem problemas graves da doença.

¿ O adolescente hoje se acha consciente e diz que tá tudo bem, que se vive com Aids. Há inclusive adolescentes de 17 anos que contraíram HIV da mãe ao nascer. Mas pouco se fala dos efeitos colaterais dos antiretrovirais em crianças, como a lipodistrofia (perda do tecido gorduroso) ¿ afirmou. (Leila Suwwan)