Título: Calamidade também na saúde, com risco de doenças e falta de remédios
Autor: Perboni, Juraci
Fonte: O Globo, 27/11/2008, O País, p. 4

TRAGÉDIA SOB AS ÁGUAS: Temporão anuncia liberação de verbas e medicamentos

Para ajudar na localização de corpos, Força Nacional chega ao estado

Juraci Perboni*

FLORIANÓPOLIS. Ainda contando os mortos pelas chuvas e deslizamentos de terra, que já somam 97, autoridades de Santa Catarina temem agora o risco de doenças pelo contato com a lama e a água suja que inundaram as 80 cidades do estado - como a leptospirose, transmitida pela urina de rato. Os esgotos transbordaram e toneladas de lixo estão espalhadas por toda parte. Atingidos pela enxurrada, hospitais perderam estoque de medicamentos.

Às 19h de ontem, a Defesa Civil contabilizava 27.404 desabrigados e 51.252 desalojados. São mais de 1,5 milhão de pessoas afetadas e há 19 desaparecidos. Sete municípios estão isolados: São Bonifácio, Luiz Alves, São João Batista, Rio dos Cedros, Garuva, Itapoá e Benedito Novo.

O governo federal prepara o envio de 34 tipos de medicamento e lotes de vacina para atendimento emergencial, principalmente soros contra tétano, picadas de cobra e escorpião. Centenas de caixas de vacina se perderam com a interrupção de energia elétrica e refrigeração.

A quantidade de sangue nos centros de coleta de Blumenau, um dos municípios mais castigados, caiu à metade.

- Precisamos muito de doadores - apelou ontem a assessora de um dos hospitais de Blumenau, Eliane Junkes.

Acesso de doentes a hospitais ainda é difícil

Alguns doentes não conseguem chegar aos prontos-socorros e hospitais. No bairro de Progresso, em Blumenau, soldados do Exército começaram ontem a abrir caminho com tanques para levar medicamentos aos moradores ilhados há três dias, sem água, luz e telefone. Em Morro do Baú, na cidade de Ilhota, militares chegaram de helicóptero e foram recebidos por pessoas que balançavam um lençol branco com o seguinte apelo: "Criança doente".

O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, anunciou a liberação de R$100 milhões para o tratamento de doenças endêmicas provocadas pelas enchentes, além de 17 toneladas de medicamentos e a construção de um hospital de campanha para atender às vítimas da tragédia.

- Estamos trabalhando em parceria direta com os municípios - disse Temporão ontem no estado. Mais de 100 agentes do ministério foram acionados para ajudar no atendimento a pacientes em várias cidades.

Ainda para ajudar no resgate foram enviados a Santa Catarina 46 homens da Força Nacional, além de cães farejadores para ajudar na localização de corpos que ainda podem estar soterrados. Estima-se que mais de 1,5 milhão de pessoas foram atingidas. Mais de 54 mil habitantes estão desalojados ou desabrigados, segundo balanço da Defesa Civil. Oito municípios onde moram 97,6 mil pessoas continuam isolados: São Bonifácio, Luiz Alves, São João Batista, Rio dos Cedros, Garuva, Pomerode, Itapoá e Benedito Novo.

As estradas continuam parcial ou totalmente interditadas. Os trabalhos de remoção de pedras e barro nas BRs 101, 470 e na 282 fazem com que trechos das rodovias continuem interditadas. Já as rodovias estaduais estão todas fechadas. Há risco de novos deslizamentos.

O país presta solidariedade às vítimas. Toneladas de donativos e mantimentos começam a chegar a diferentes municípios. O Rio enviou 500 colchões, além de agasalhos e cobertores. De Campinas foram mandados 5,2 mil colchões. A Defesa Civil espera arrecadar pelo menos 20 toneladas de donativos.

O representante comercial Reginaldo de Oliveira saiu de Curitiba para levar doações a Florianópolis:

- Estou bastante emocionado com essa situação.

No meio do caos, começam a surgir denúncias de golpistas que tentam se aproveitar da situação. Internautas estão recebendo e-mails com números de contas bancárias de supostas instituições para que sejam depositadas doações para as vítimas. A Defesa Civil denunciou o golpe à polícia.