Título: IBGE: população vai parar de crescer em 30 anos
Autor: Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 28/11/2008, O País, p. 10

Estudo atualiza projeções feitas em 2004 e mostra que mortes violentas diminuem expectativa de vida do brasileiro.

A população brasileira tem prazo para parar de aumentar: 2039. É quando a taxa de crescimento do país chegará ao limite e começará a decair, segundo aponta a revisão 2008 das projeções populacionais, divulgada ontem pelo IBGE. Consolida-se, a partir da curva de queda, a tendência de envelhecimento da população. Seremos 215,2 milhões de brasileiros em 2050. Deste total, 13,8 milhões com 80 anos ou mais. Em 2008, esse número é de 189,6 milhões, sendo 1,6 milhão deles acima dos 80.

- Esse processo de envelhecimento, ao que tudo indica, é irreversível e necessita urgentemente de medidas que possam atender uma população que está se tornando cada vez mais idosa e numerosa e que vai precisar de assistência do Estado nas áreas social, de saúde - diz o gerente de Estudos e Análises da Dinâmica Demográfica, Juarez de Castro Oliveira.

Um outro dado ilustra a mudança radical de perfil da população prevista pelo estudo do IBGE: em 2008, o percentual de crianças de 0 a 14 anos correspondia a 26,47% da população total, contra 6,53% dos que têm 65 anos ou mais; para 2050, a previsão é de que as crianças correspondam a 13,15%; e os idosos, a 22,71%.

No Brasil dos anos 40, a longevidade era incomum: em média, um brasileiro mal chegava aos 50 anos (a expectativa era de 45,5 anos). Em 2008, chega a 72,78 anos. Ao alcançar a média prevista para 2050 (81,3 anos), o Brasil viverá cenário demográfico semelhante ao da Islândia (81,80) e de Hong Kong, na China (82,20), hoje. Os dados mundiais mostram que a esperança de vida ao nascer, em 2008, é de 67,20. Para 2045-2050, a projeção é de 75,4 anos.

Os dados divulgados ontem atualizam as projeções feitas em 2004 pelo instituto, que apontavam o ano de 2062 como o prazo para o país atingir o chamado "crescimento zero". A projeção, naquele momento, levava em conta a taxa de fecundidade de 1,85 filho por mulher. A partir da análise da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) em 2002 e 2006, os técnicos adotaram, para a projeção, a taxa verificada com maior precisão: 1,5 filho por mulher.

Uma análise da série histórica da taxa de crescimento da população mostra a tendência de queda. Entre os anos 50 e 60, era de 3,04% ao ano, e agora não ultrapassou, em 2008, os 1,05% no ano. A projeção para 2050 é de -0,291%.

A pesquisa também projeta aumento do impacto das mortes por causas violentas na população masculina, de 20 a 24 anos. Hoje, segundo o IBGE, a chance de um homem nessa faixa etária morrer é quatro vezes maior do que o de uma mulher. Essa proporção, até 2050, passará a cinco vezes e meia, segundo o instituto.

- A violência está se tornando uma mácula que teima em não cicatrizar. Se não fosse isso, a expectativa de vida de um homem ao nascer poderia ser superior em dois ou três anos - disse Juarez de Castro.

O pesquisador ressalta que o impacto da violência leva a projeções de uma diferença ainda mais nítida na proporção entre homens e mulheres em 2050. O excedente feminino é previsto em 7 milhões - hoje é de 3,4 milhões e em 2000, era de 2,5 milhões.

Estimada em 23,2 óbitos de menores de 1 ano para cada mil nascidos vivos, em 2008, a mortalidade infantil no Brasil ainda é maior do que na Argentina (13,4 por mil), no Chile (7,2 por mil) e no Uruguai (13,10 por mil), levando em conta indicadores projetados para 2005-2010. A pesquisa indica ainda que, em 2020, o país atingirá a meta do milênio - alcançar o patamar de 15 mortes por mil habitantes.

O estudo também identifica o que os pesquisadores chamaram de "bônus demográfico": a população com idade de ingresso no mercado de trabalho (15 a 24 anos) passa pelo máximo de 34 milhões e tende a diminuir daqui em diante. É a chamada "janela demográfica".

- É um contingente com potencial para já estar ingressando no mercado de trabalho, que hoje se mostra cada vez mais exigente, seletivo e competitivo - disse Juarez.