Título: Governadores pedem pressa para votar reforma tributária
Autor: Jungblut, Cristiane; Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 28/11/2008, O País, p. 11

Relator e oposição queriam adiar votação para 2009.

BRASÍLIA. Apesar de reconhecerem as dificuldades cada vez maiores em torno do assunto, o governo e boa parte dos dez governadores do Norte e do Nordeste, reunidos ontem com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, reforçaram o discurso de que é preciso pôr a reforma tributária em votação na Câmara ainda este ano. Parlamentares governistas chegaram a defender um acordo com a oposição para deixar a votação para 2009, mas, após o encontro com Mantega, recuaram. A estratégia dos líderes governistas é de, pelo menos, votar o texto-base da reforma este ano.

O relator da proposta na Câmara, Sandro Mabel (PR-GO), reconheceu que será impossível concluir a votação, mas ressaltou que a disposição é tentar. A decisão final ficou para a semana que vem. Ao chegar à reunião, Mabel fez a sugestão de adiar a reforma, mas a pressão dos governadores e do próprio governo o fez mudar de discurso. De manhã, em reunião com a oposição, ele mostrara simpatia pela idéia do líder do PSDB, José Aníbal (SP), de se criar um grupo para discutir a reforma até março ou abril de 2009.

Aníbal ficou irritado com a pressão do Planalto:

- O governo quer fazer uma ação política deliberada, e lamento que os governadores se prestem a isso. O governo vai tumultuar o processo ao máximo, mas não vai conseguir aprovar a reforma.

- A cada dia que passa fica mais difícil votar a reforma. O próprio governo sabe disso. É um assunto complexo - acrescentou o líder do DEM, Antonio Carlos Magalhães Neto (BA).

Os governadores defenderam junto a Mantega que seja mantida no texto da reforma a cobrança da alíquota de 2% de ICMS nos estados de origem dos produtos. O governo de São Paulo, sob o comando de José Serra (PSDB), defende 4%. A posição paulista foi atacada pelos governadores:

- São Paulo não pode colocar seus interesses acima dos interesses do povo - protestou a governadora do Pará, Ana Júlia (PT).

- O Nordeste importa 70% do que consome, e o ICMS incide na origem dos produtos, ou seja, há 20 anos fazemos a transferência de renda para que os estados mais desenvolvidos mantenham suas escolas, seus hospitais, a segurança pública, e, por isso, defendemos que a tributação deve ser toda no destino - disse, por sua vez, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB).

O secretário-extraordinário de Reformas Econômico-Fiscais da Fazenda, Bernard Appy, fez duras críticas à oposição.

- A discussão é política, e usar uma metralhadora giratória não é um argumento técnico - disse Appy.