Título: Paulinho tem cassação pedida e janta com Lula
Autor: Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 27/11/2008, O País, p. 10
Pedido de vista adiou votação no Conselho de Ética; deputado e sindicalistas foram recebidos pelo presidente
Isabel Braga
BRASÍLIA. O deputado Paulo Piau (PMDB-MG), relator do processo que corre no Conselho de Ética da Câmara contra o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), pediu ontem a cassação de seu mandato por envolvimento num esquema de tráfico de influência e desvio de recursos liberados pelo BNDES. O presidente da Força Sindical já responde a processo por desvio de recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) destinado à qualificação profissional de desempregados. Segundo Piau, Paulinho "sabia, apoiava e se beneficiava" do "esquema fraudulento sobre liberação de verbas pelo BNDES".
Confirmando a existência de um "acordão" para enterrar o caso no Conselho, a maioria das manifestações era favorável à absolvição de Paulinho alegando falta de provas. A deputada Solange Amaral (DEM-RJ) pediu vista do relatório e adiou a votação para a próxima semana, para tentar reverter votos.
Deputado estava em solenidade no Planalto
Enquanto os amigos tentavam rejeitar o parecer, Paulinho estava numa solenidade no Palácio do Planalto, na primeira fila, e trocou bilhetinhos com o secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci, acertando detalhes do jantar que as centrais sindicais teriam com o presidente Lula. Solange confirmou que pediu vista para impedir a manobra da tropa de choque de Paulinho:
- Temos que alertar os conselheiros da gravidade dos fatos. Há fatos novos. O relatório é muito bom e ia perder.
Dos 12 deputados que se manifestaram no Conselho de Ética, só quatro, incluindo o relator Piau, pediram a cassação de Paulinho. Os demais declararam não ter condições de cassar colegas sem uma decisão da Justiça. E alardeavam que o voto pela absolvição era um ato de coragem e enfrentamento às críticas da imprensa.
- Não temos elementos para cassar, isso não é inquisição, não é fogueira da Joana D"Arc. Não podemos passar o carro na frente dos bois - disse o deputado Aberlardo Camarinha (PSB-SP).
O relator mostrou a relação entre Paulinho e os acusados de formar o esquema de desvio de recursos, especialmente o advogado Ricardo Tosto e João Pedro de Moura, ambos ex-conselheiros do BNDES. Segundo ele, a participação de Paulinho se dava por meio da ação de Tosto e João Pedro na liberação de verbas para empréstimos. Piau listou os cheques, os depósitos feitos nas contas das ONGs Meu Guri - presidida pela mulher do deputado, Elza - e Luta e Solidariedade, além de telefonemas. Ele ressaltou que, apesar de alegar que João Pedro usava seu nome para conseguir vantagens, nunca o penalizou por isso.
Inquérito no STF apura desvio de recursos da Força
"O representado ( Paulinho) era, de fato, figura proeminente no esquema fraudulento, seja como "animador" em altas esferas do Estado brasileiro, seja como "nome de referência" nos contatos efetuados pelos membros do grupo (especial Moura, Mantovani, Consani e Tosto), seja como beneficiário das maquinações do grupo (resultados econômicos e dividendos de natureza política), seja como protetor da organização, como mostram os telefonemas", diz trecho do relatório.
Em nome da bancada do PDT, Mário Heringer (MG) chegou a ser ríspido com o relator, ao dizer que ele não havia apontado qualquer prova de envolvimento do deputado no esquema.
Paulinho responde ainda a inquérito no STF para apurar denúncias de desvio de dinheiro público pela Força. A central teria usado alunos fantasmas em cursos para desempregados pagos com recursos federais. Integram o inquérito, proposto pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, irregularidades nos convênios da Força com o Ministério do Trabalho, além de depoimentos de supostos alunos que nunca teriam assistido às aulas.
Jantar no Torto foi confirmado por Dulci
Já com o parecer do relator pela cassação de seu mandato anunciado, Paulinho participou de encontro dos movimentos sociais com ministros no Palácio do Planalto, sentando-se na primeira fila e permanecendo por pouco mais de uma hora. Como o presidente Lula tinha viajado para Santa Catarina, Paulinho chegou a mandar um bilhete, durante a cerimônia da tarde, para o ministro Luiz Dulci, indagando se o jantar estava confirmado. Dulci, também por meio de um bilhete, respondeu que, até aquele momento, sim.
Embora estive previsto desde a semana passada, o jantar com as centrais sindicais, com a presença de Paulinho, só foi divulgado na terceira versão da agenda presidencial, modificada ontem duas vezes.