Título: Para PSDB, governo fez uso político da estatal
Autor: Vascncelos, Adriana; Paul, Gustavo
Fonte: O Globo, 28/11/2008, Economia, p. 27

Oposição volta à carga e diz que empréstimo da Caixa demonstra falta de planejamento financeiro da Petrobras.

BRASÍLIA. O PSDB acusou uso político como motivo para a Petrobras ter necessidade de fazer um empréstimo emergencial de R$2,02 bilhões junto à Caixa Econômica Federal (CEF) e sanar problemas de capital de giro no auge da crise financeira, em 31 de outubro. Ao GLOBO, o presidente da sigla, senador Sergio Guerra, afirmou que o episódio é uma "clara demonstração de falta de planejamento financeiro" e que "é fato que a Petrobras está se prestando a uso político" e "pode vir a se complicar, mesmo que hoje não corra riscos".

A oposição obteve ainda a aprovação, na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, do convite para que os presidentes da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, da Caixa, Maria Fernanda Coelho, do Banco do Brasil (BB), Antônio Francisco de Lima Neto, e do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, esclareçam as condições do empréstimo. As explicações oferecidas pela Petrobras, em nota, foram consideradas insuficientes.

Senador critica crédito subsidiado

O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) fez coro com Guerra e voltou à carga da véspera, em plenário. Acusou a CEF de ter concedido financiamento subsidiado - a 104% do custo dos Certificados de Depósito Interbancário (CDIs), enquanto, em outras instituições, não sairia por menos de 120%. Para ele, as condições apresentadas sugerem problemas no caixa da empresa e a necessidade de uma operação de emergência para socorrer a estatal. Segundo ele, outro empréstimo, negado pela estatal, no valor de R$700 milhões, teria sido acertado com o Banco do Brasil:

- Aparentemente, a Petrobras está com o caixa arrebentado. É uma coisa séria para uma empresa do porte da Petrobras - disse Tasso.

- Essa operação mostra a falta de planejamento financeiro da empresa. Foi uma operação de emergência, nada a ver com a impressão passada pelo governo de que a Petrobras é uma empresa sólida, robusta e líquida - disse, por sua vez, Guerra. - O fato é que a Petrobras está se prestando ao uso político, partidário e de ingerências estranhas, o que tem onerado seus custos e desperas.

Nos bastidores, os tucanos dizem terem obtido informações de pequenos e médios banqueiros de que o dinheiro liberado dos depósitos compulsórios estaria indo quase de forma integral para a Petrobras. Outra preocupação é com o aumento do número de funcionários, que teria, na gestão petista, subido de 30 mil para 50 mil. Para Tasso, não seria algo natural nem corriqueiro o empréstimo obtido pela Petrobras junto à Caixa:

- Esse dinheiro deveria ser usado para financiar compra de automóveis, casas e incentivar o consumo. Além disso, empresas que não têm acesso a crédito internacional deixaram de ter acesso a esses recursos.

Tasso alfinetou ainda o BC:

- O empréstimo ultrapassou o limite de endividamento permitido para a Petrobras. Por que o Banco Central fechou os olhos a isso?

Em plenário, os tucanos voltaram a abordar o assunto quando o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) subiu à tribuna para rebater rumores de que a Petrobras estaria atrasando o pagamento de seus fornedores.

- Não é correta a informação de que a Petrobras atrasou o pagamento de fornecedores.

Tasso contestou. Citando o balanço da Petrobras, disse que o passivo circulante líquido (dívidas de curto prazo) da empresa foi a R$92,9 bilhões, enquanto o ativo circulante líquido (aquilo que a Petrobras tem em caixa e a receber no curto prazo) soma R$57 bilhões.