Título: Caminhos e descaminhos na escola
Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 30/11/2008, O País, p. 3

LIÇÕES DA SALA DE AULA

Parcerias ajudam a melhorar ensino na rede pública, que sofre com a violência

Portador de deficiência mental que o impede de falar e afeta sua coordenação motora, o menino João Alfredo, de 15 anos, esbanja alegria em aulas de natação numa escola pública de Brasília. A piscina que encanta o menino, no Centro de Ensino Especial 2 (CEE-2), é coberta, aquecida e não custou um centavo aos cofres públicos.

A iniciativa faz parte do programa Parceiros da Escola, do governo do Distrito Federal. Desde o ano passado, 2.076 empresas, órgãos públicos e pessoas físicas contribuíram para melhorar a qualidade do ensino e a infra-estrutura em 623 escolas.

Em todo o país, parcerias entre empresas, fundações e institutos contribuem para melhorar o ensino público. Embora faltem estimativas sobre o tamanho da ajuda, o Grupo de Institutos Fundações e Empresas (Gife), que reúne 112 entidades do setor privado, calcula que seus associados investiram R$124 milhões em 2005, de um total de R$1,15 bilhão destinado às áreas social e ambiental.

De olho no impacto que esse dinheiro pode ter, o Ministério da Educação (MEC) e o movimento Todos pela Educação, que reúne cerca de 700 parceiros, querem coordenar gastos. A idéia é que as entidades privadas dediquem esforços às ações dos chamados Planos de Ações Articulares (PAR), elaborados por especialistas para dois mil municípios.

- O PAR será balizador para o investimento social privado - diz o presidente-executivo do Todos pela Educação, Mozart Neves Ramos.

O secretário-executivo do MEC, José Henrique Paim, lembra que o ministério divulgou na internet o diagnóstico educacional e os projetos previstos (www.mec.gov.br). Ele enfatizou, porém, que o governo não tem poder nem pretende obrigar qualquer entidade a se orientar pelo PAR:

- O objetivo é dar eficiência e qualidade ao gasto em educação.

Escola tem mais de 20 apoiadores

No programa do governo do Distrito Federal, pais de alunos e pequenos comerciantes são maioria, mas empresas também participam. A maior é a União Química, que gastou R$340 mil com a piscina e os vestiários.

- O João é doido com essa piscina, ele já vem de sunga por baixo - conta a mãe, Isabel Pereira.

Com 220 alunos, a escola de João é a vitrine do projeto, com mais de 20 apoiadores. Entre eles, um neuropediatra que atende gratuitamente uma vez por mês, um jardineiro e um pianista amador que se apresenta toda semana na escola. O diretor Evângelo Franco diz que as parcerias melhoram o atendimento dos alunos, boa parte órfãos ou filhos de famílias pobres. Para ele, o programa não deve substituir o investimento público, mas ir além.

O Parceiros da Escola não concede benefício fiscal específico. Permite que os doadores se beneficiem de leis federais de incentivo e do chamado marketing social. Não há doação de dinheiro, mas contribuições para obras, reformas, compra de equipamentos, refeições ou prestação de serviços.

O gerente do programa, Ricardo Noronha, diz que ele mobiliza a sociedade e dribla a burocracia:

- O conserto de um vidro quebrado na escola pode demandar um mês. O parceiro pode resolver o problema num dia. Na própria comunidade tem pintores, pedreiros, marceneiros.

As Forças Armadas fazem reformas em escolas, e embaixadas com sede em Brasília colaboram - a da Alemanha doou quatro computadores. A rede de postos de combustíveis Gasol doa bibliotecas; o Tribunal Superior do Trabalho destinou 500 computadores a 50 escolas públicas. O presidente da União Química, Fernando Marques, conta que fez a doação a pedido do diretor e diz que o empresário tem de se engajar em projetos sociais:

- O empresário não pode ficar alheio. No Brasil, isso não está muito forte, mas é comum no Primeiro Mundo.