Título: Gangues dominam colégio
Autor: Menezes, Maiá; Rios, Odilon
Fonte: O Globo, 30/11/2008, O País, p. 4

Rotina de violência assusta professores e alunos em SP.

SÃO PAULO. Depredada depois de uma briga entre alunos, a Escola Estadual Amadeu Amaral, no Belém, Zona Leste de São Paulo, é dominada por duas gangues que copiam atitudes de uma facção criminosa de atuação nos presídios paulistas. Essas gangues participaram do quebra-quebra do último dia 12, quando todas as carteiras foram quebradas, vidros e portas arrebentados. A confusão começou com o acerto de contas entre duas adolescentes. X., de 18 anos, integrante de uma das gangues, bateu em Y., de 15 anos, que, segundo ela, se oferecia para os meninos.

Nas paredes das salas de aula, nos móveis e portas, alunos desenharam armas e picharam artigos do Código Penal e a sigla da facção. De acordo com a Secretaria de Educação, os 12 alunos identificados como responsáveis pelo quebra-quebra foram expulsos e transferidos para outras escolas.

Uma professora de geografia de 59 anos conta que já sofreu várias agressões de alunos. Foi amarrada, amordaçada e torturada com pontas de lápis e de de canetas finas, levou pontapés no estômago e foi derrubada na sala de aula por uma porta arrombada a pontapés por alunos.

¿ Estou afastada da sala de aula porque tenho muito medo ¿ diz a professora, que lembra ter perdido a conta das vezes em que foi xingada, levou pontapés e socos e ainda teve o carro destruído.

Pesquisa do Sindicato de Especialistas em Educação do Magistério Oficial do Estado de São Paulo (Udemo) mostra que 86% das escolas estaduais sofreram violência em 2007. Na Grande São Paulo, o índice chega a 97%. Na capital, só 12% das escolas não sofreram violência. As maiores vítimas da violência nas escolas, segundo a pesquisa, são professores, funcionários e direção. Brigas entre alunos são a principal raiz dos casos de violência. Mas há também relatos de invasão de estranhos, porte ou consumo de bebidas alcoólicas, tráfico/porte ou consumo de drogas, ameaças de morte e porte e uso de armas por alunos.

A socióloga Carin Ruotti, pesquisadora do Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da USP e uma das autoras do livro ¿Violência na Escola ¿ Um guia para pais e professores¿, diz:

¿ O padrão na escola muitas vezes ainda é a educação autoritária, que pode gerar conflitos. Os alunos muitas vezes não são chamados a participar e entender as regras e ter uma convivência melhor. No cotidiano, professores e alunos não estão conseguindo criar uma relação que seja positiva.

Em nota, a Secretaria de Estado da Educação afirmou que o Udemo, o sindicato dos diretores de escolas públicas, realizou uma pesquisa sem base técnica, que aponta números irreais e sem comprovação. De acordo com a nota, o sindicato contabiliza como violência em escola qualquer dano a material, como chiclete grudado em carteira ou risco de caneta em parede.