Título: Bancos elevam ritmo de demissões
Autor: Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 29/11/2008, Economia, p. 38
Cortes chegaram a 324 em outubro, 104% a mais do que em setembro
Lino Rodrigues e Ronaldo D"Ercole
SÃO PAULO. A falta de liquidez e a diminuição das operações de crédito já se traduzem em demissões no setor bancário. Pelo menos 50 instituições de pequeno e médio portes, voltadas principalmente ao Crédito Direto ao Consumidor (CDC), aceleraram o ritmo de dispensas nos últimos três meses. Segundo dados do Sindicato dos Bancários de São Paulo, o número de demissões homologadas de funcionários com mais de um ano de casa saltou de 159, em setembro, para 324 em outubro, alta de 104%. Em novembro, o ritmo de dispensas continuou forte: até o dia 14, 225 bancários haviam perdido o emprego.
O movimento, que começou nos bancos de pequeno e médio portes, está chegando aos grandes. Nos últimos três dias, informou o sindicato, instituições como Safra, HSBC e Real demitiram cerca de 180 funcionários em todo o país, grande parte deles das áreas de crédito consignado e de financiamento de veículos, setores mais atingidos pelo recuo nas operações de crédito.
O Real, que foi comprado pelo Santander e demitiu quase 500 funcionários desde agosto, informou que não comentaria o assunto. Já o Safra, que dispensou 100 empregados só este mês, disse se tratar de uma mudança normal. Versão que é endossada pela Febraban, entidade que representa o setor bancário.
- O que acontece é que os bancos estão aproveitando a maré (para demitir agora), porque sabem que, com os spreads maiores e a exigência de mais garantias, empresas e consumidores estão mais reticentes e os negócios vão diminuir - disse o executivo de um grande banco.
Sindicalista teme aumento do número de demissões
Luiz Claudio Marcolino, presidente do sindicato, disse que o governo errou ao liberar mais de R$56 bilhões só com as mudanças no compulsório, sem exigir uma contrapartida por parte dos bancos.
- Até aí, tudo certo (a liberação dos recursos), não fosse por um detalhe fundamental: os recursos foram liberados sem qualquer contrapartida social - disse.
Segundo Marcolino, o número de demissões pode ser bem maior, já que os trabalhadores com menos de um ano de casa não aparecem nos levantamentos do sindicato. O sindicato já entregou carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva pedindo medidas para proteger os funcionários que trabalham com carteiras de crédito em instituições de pequeno porte compradas pelos grandes bancos.