Título: Bandidos falavam em código
Autor: Werneck, Antônio
Fonte: O Globo, 30/11/2008, Rio, p. 15

Casos só foram confirmados durante a análise do material.

Policiais federais que participaram da ação, ouvidos na semana passada pelo GLOBO, lamentaram as mortes. Eles disseram que não foi possível evitar os assassinatos porque os criminosos falavam entre si em código durante as ligações. Só durante a análise das escutas ¿ muitas vezes com o apoio de notícias publicadas pelos jornais do Rio e que foram feitas depois das mortes consumadas ¿ foi possível confirmar que eles conversavam sobre assassinatos.

O mesmo policial afirmou que, apesar de estarem sendo monitorados passo a passo pelo supercomputador Guardião, grupos ligados à máfia dos caça-níqueis conseguiam planejar e executar assassinatos. Eles só foram presos em dezembro de 2006, quando a Operação Gladiador foi deflagrada no Rio.

¿ Lamentamos muito. Se soubéssemos antes, agiríamos. Nosso trabalho era investigar a máfia dos caça-níqueis, mas por dever de ofício teríamos que impedir as mortes, mesmo que usássemos meios indiretos ¿ disse um outro policial federal, preferindo não ser identificado.

Ao todo, durante os quase dois anos de investigações, o núcleo da Operação Gladiador chegou a ter no máximo oito analistas ¿ policiais especializados em ouvir os grampos e determinar ações em relatórios enviados ao comando da ação. Mas em muitos períodos os recursos humanos e financeiros foram escassos. Faltavam agentes e dinheiro.

¿ É humanamente impossível você ficar ouvindo e analisando em tempo real, 24 horas por dia, as conversas captadas pelo Guardião. Há uma defasagem natural de tempo entre a captação da conversa e o processamento. Além disso, os criminosos falam em código. Na Gladiador, conseguimos juntar as peças depois e todos os assassinos estão presos ou denunciados ¿ afirmou um policial federal.

Para piorar ainda mais, os policiais federais que cuidavam da Gladiador tiveram que ser deslocados para investigar o desaparecimento de cerca de R$2 milhões em euros, dólares e reais. O dinheiro, apreendido durante a Operação Caravelas (que desarticulou uma quadrilha que pretendia enviar cocaína para a Europa escondida em peças de bucho de boi), foi furtado dentro da Superintendência do Rio.

O trabalho dos federais da Gladiador resultou nas condenações dos agentes federais Fábio Morot Kair e Marcos Paulo da Silva Rocha, cada um deles a uma pena de 11 anos, três meses e 15 dias em regime fechado. Também foram condenados o ¿X-9¿ Ubirajara Saldanha Maia, a seis anos, um mês e 20 dias de reclusão em regime fechado; e o policial federal Ivan Ricardo Leal Maués, a dois anos em regime semi-aberto.