Título: Racha até entre britânicos
Autor: Berlinck, Deborah; Magalhães-Ruether, Graça
Fonte: O Globo, 30/11/2008, Economia, p. 30

Plano do premier Gordon Brown acirra discussão sobre como enfrentar a turbulência.

LONDRES. Nenhuma facção pode reclamar no Reino Unido, pois a crise econômica trouxe tanto para eurófilos como para eurocéticos argumentos em prol de suas causas. Para a turma que tem olhado com desconfiança para a União Européia mesmo antes da criação do euro, as desavenças entre autoridades de vizinhos poderosos como França e Alemanha foram um exemplo de como o bloco político-econômico mais atrapalha que ajuda no tocante a respostas rápidas diante de crises. Partidários de uma maior integração, por outro lado, apontam para o fato de que a moeda única mostrou mais saúde que a britânica nas últimas semanas.

A situação fica ainda mais interessante por conta da admiração despertada pelo premier britânico, Gordon Brown, por conta de seu plano de emergência para resgatar o sistema bancário do país, sobretudo por conta do discurso rigoroso em prol de maior regulamentação de instituições financeiras como forma de conter futuras crises.

¿ Não se pode falar simplesmente em problema estrutural, a começar pelo tamanho do orçamento da UE, que está na casa do US$150 bilhões, quantia insuficiente para algum tipo de assistência mais direta. Será interessante ver o debate caso a economia dos países da zona do euro se recupere mais rápido que a britânica ¿ diz James Clive-Matthews, comentarista e autor de um dos blogs mais lidos sobre a questão européia.

Mais do que um reflexo da insularidade e da ressaca pós-imperial britânica, o debate do euro também passa pelo argumento de que a perda de autonomia na política monetária representaria um trunfo a menos para que Brown pudesse adotar seu tão elogiado plano. E há também quem aponte para os problemas consensuais enfrentados no plano político, simbolizados pela dupla derrota no projeto constitucional da UE ¿ a mais recente delas ocorrendo com o não da pequenina Irlanda ao Tratado de Lisboa.