Título: Fim do cerco: 195 mortos
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Fonte: O Globo, 30/11/2008, O Mundo, p. 33

Autoridades indianas dizem que objetivo de terroristas era matar 5 mil; ataque durou três dias.

BOMBAIM

Depois de matar os últimos três terroristas que resistiam ao cerco das forças indianas em Bombaim, o chefe de polícia da cidade, Hasan Gafoor, finalmente decretou: ¿o (hotel) Taj está sob controle¿. Foram três dias de cerco aos terroristas responsáveis pela série de ataques coordenados que deixou pelo menos 195 mortos ¿ entre eles 18 estrangeiros ¿ e 239 feridos na cidade que é a capital financeira da Índia. Ontem, enquanto os últimos corpos eram contados e familiares velavam as vítimas, policiais ainda realizavam uma operação pente-fino nos 560 quartos do hotel mais luxuoso da cidade, onde policiais e terroristas realizaram até o último minuto uma batalha homem-a-homem pelos aposentos do imponente prédio.

A Índia destacou para a operação seus soldados mais bem treinados, os chamados Gatos Negros. Um militar envolvido na operação se mostrou impressionado com o grau técnico empregado pelos terroristas.

¿ Às vezes eles se equiparavam a nós em combate e movimentação. Ou já foram militares ou passaram por um longo treinamento militar ¿ disse o militar ao ¿Hindustan Times¿.

A intenção era matar 5 mil pessoas, afirmou o ministro do Interior, R.R. Patil. Os terroristas também mostraram conhecimento da planta do hotel. Jornais locais disseram que alguns fizeram reservas no hotel semanas antes dos ataques e que alugaram um apartamento na cidade há meses, fazendo-se passar por estudantes. Para investigadores, parte da grande quantidade de explosivos usados nos três dias de combate já deveria estar escondida no hotel. No total, a polícia matou nove terroristas e prendeu um.

Investigadores disseram ter encontrado aparelhos e celulares num barco abandonado que poderia ter sido usado na invasão. No registro de chamadas havia ligações para Jalalabad, no Paquistão. O presidente paquistanês, Asif Ali Zardari, ofereceu ajuda nas investigações e disse que tomaria as ¿ações mais estritas¿ se apurado que os radicais têm base em seu país.

Um piano incólume em meio a ruínas

A cena no hotel de 105 anos onde o príncipe Charles e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já se hospedaram era de destruição: escadarias incendiadas, janelas quebradas, poças de sangue e muitas cinzas. Soldados com cães farejadores faziam uma última varredura pelos quartos, enquanto outros embarcavam em ônibus, deixando o local parecendo exaustos. Os corpos das vítimas no Taj Mahal e no hotel Oberoi, penúltimo campo de batalha da série de ataques em diferentes pontos de Bombaim, ainda eram retirados em ambulâncias.

Ratan Tata, presidente de um dos maiores conglomerados privados do mundo e dono do Taj Mahal, chegou para ver o que sobrou do prédio.

¿ O lobby está um horror absoluto ¿ disse Manish Mundra, voluntário que ajudou a levar comida para as forças de segurança dentro do hotel. ¿ A mobília está arruinada, tem água por todo lado, eles nunca vão conseguir reutilizar nada daquilo.

No Oberoi, hóspedes muito abatidos foram autorizados a entrar numa das alas para recolher seus pertences. O lobby ficou coberto por cacos de vidro. Marcas de bala tomaram o parapeito as portas que levavam ao piano-bar do hotel. No meio da destruição, um piano de cauda passou incólume pelos ataques. Funcionários disseram que uma das alas seria reaberta na quarta-feira. A mais afetada permanecerá interditada.