Título: Paquistão pode deslocar tropas para fronteira
Autor: Costa, Florência
Fonte: O Globo, 30/11/2008, O Mundo, p. 34

Único terrorista capturado com vida diz que grupo foi treinado na parte da Cachemira ocupada pelo país vizinho à Índia.

NOVA DÉLHI. Com o fim da guerra em Bombaim na manhã de ontem, a tensão entre Índia e Paquistão aumentou. O canal de TV paquistanês GEO informou ontem que o Exército do país poderá realocar cem mil homens da fronteira com o Afeganistão para a fronteira com a Índia, que pode também movimentar suas tropas. A informação foi passada ao canal por fontes do Exército paquistanês e do serviço de inteligência. O GEO também transmitiu a notícia de que um dos fatores que fizeram com que o governo paquistanês desistisse de mandar o diretor-geral do seu serviço secreto à Índia para trocar informações sobre o atentado foi o ¿tom agressivo¿ ¿ inclusive com ameaças de haver conseqüências para o país ¿ do ministro do Exterior da Índia, Pranab Mukherjee, na conversa por telefone com oficiais paquistaneses.

Ontem, toda a atenção estava voltada para as informações sobre a origem dos terroristas e os patrocinadores do atentado. Um terrorista foi capturado com vida: o paquistanês Ajmal Amir Kasab, de 21 anos, que veio de Faridkot, na parte da região da Cachemira ocupada pelo Paquistão. Ele revelou uma série de detalhes sobre o atentado. Ajmal disse que todos os militantes passaram por treinamento em campos do grupo paquistanês Lashkar-e-Taiba na Cachemira ocupada pelo Paquistão. Segundo ele, dois eram paquistaneses com passaporte britânico e um era do Iêmen. Também foi divulgado que o terrorista mais procurado pela Índia, Dawood Ibrahim, que está refugiado no Paquistão sob a proteção do serviço secreto, o ISI, teria patrocinado o atentado a Bombaim. O governo da Índia já pediu ao governo paquistanês a extradição de Dawood, sem sucesso. O depoimento do terrorista capturado reforça a tese de cumplicidade de parte do establishment paquistanês, como setores do serviço secreto, o ISI, que há anos já fugiu ao controle do Estado.

Zardari diz que seu coração sangra pelo povo da Índia

Um dos principais canais indianos, o CNN-IBN, transmitiu uma entrevista ao vivo com o presidente do Paquistão, Asif Ali Zardari. Ele disse que seu coração ¿sangra pelo povo da Índia¿ e que as feridas do país ¿lembram a minha ferida¿, referindo-se ao assassinato de sua mulher, a ex-primeira-ministra Benazir Bhutto, por terroristas islâmicos. Zardari prometeu colaborar nas investigações, mas disse que é cedo para enviar o diretor-geral do serviço secreto de informação paquistanês à Índia, como havia sido anunciado:

¿ Houve uma falha de comunicação. Anunciamos que um diretor do ISI iria à Índia e não o diretor-geral do ISI. Está cedo para que o diretor-geral vá encontrar seus colegas indianos. É preciso que as primeiras evidências venham à tona.

Em tom dramático, Zardari disse que é alvo das mesmas ameaças que o povo indiano:

¿ Eu sou alvo de ameaças das mesmas forças. Eu estou tentando salvar o meu país e o futuro dos meus filhos.

Shah Mahmood Qureshi, ministro do Exterior do Paquistão ¿ que estava na Índia em visita oficial ¿ antecipou a sua volta ao país, ontem de manhã.

¿ O Paquistão não está na defensiva. O governo e as instituições paquistanesas são unânimes em afirmar que o Paquistão não está envolvido nessa ação repulsiva.