Título: Câmbio ajuda a reduzir peso da dívida pública
Autor: Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 27/11/2008, Economia, p. 27

Índice fica em 36,6% do PIB, repetindo patamar de 1998.

BRASÍLIA. A subida do dólar voltou a ter efeito positivo sobre a condução da política fiscal em outubro. Além de colaborar, pelo segundo mês seguido, com o registro de superávit nominal (resultado após pagamento de juros), a desvalorização do real também reduziu a relação entre a dívida pública e o Produto Interno Bruto (PIB) a 36,6%, nível registrado em 1998. Segundo dados do Banco Central (BC), em outubro o superávit nominal foi de R$5,222 bilhões, melhor desempenho mensal. Em relação a setembro, o aumento foi de 35%.

O setor público (quando são consideradas todas as esferas de governo e as estatais) conseguiu esta folga de caixa após fazer uma economia para pagamento de juros recorde (superávit primário de R$14,472 bilhões) e registrar a menor despesa financeira desde 2001 (R$9,249 bilhões). Essa queda do pagamento de juros, explicou o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, foi motivada pelo impacto do câmbio valorizado sobre as operações de swap cambial, que renderam R$4,4 bilhões em ganhos.

Superávit primário vai a 4,53% do PIB

No ano, o superávit primário que orienta a política fiscal chega a R$132,886 bilhões. Em 12 meses, o resultado corresponde a 4,53% do PIB. A meta do governo para 2008 é de 3,8% do PIB, mas há comprometimento da União de economizar 0,5% adicional, que será destinado ao Fundo Soberano do Brasil.

Lopes destacou que houve um forte resultado primário em outubro, bastante impulsionado pelo governo central (Tesouro, BC e INSS). Este economizou R$14,466 bilhões, recorde mensal e quase três vezes mais do que o número de setembro (R$5,173 bilhões). Os governos regionais tiveram superávit primário de R$2,839 bilhões, ao passo que as estatais registraram déficit de R$2,833 bilhões.

- Nesta época, é normal que as estatais façam fortes desembolsos, como pagamento de tributos e royalties - explicou o chefe do Departamento Econômico do BC.

Como o Brasil é credor em moeda estrangeira, a valorização do dólar representou ganhos e reduziu a dívida líquida do setor público, que fechou outubro a R$1,089 trilhão, ou 36,6% do PIB, menor resultado desde setembro de 1998 (36,5%). No mês anterior, estava em 38,2%. Este mês, a projeção é recuar ainda mais, para 35,7%.

Lopes explicou que, só este ano, o câmbio respondeu por 2,1 pontos percentuais da redução na relação dívida e PIB. Em dezembro de 2007, o indicador estava em 42,7%. Os superávits primários ajudaram com outros 4,5 pontos.