Título: Uma nova tática de extremistas
Autor:
Fonte: O Globo, 27/11/2008, O Mundo, p. 31

Locais freqüentados por turistas são o alvo.

BOMBAIM. Embora pareçam trabalho de extremistas islâmicos que há anos têm atingido o centro cinematográfico e financeiro da Índia, os atentados de ontem também sugerem uma nova campanha que tem como alvo centros urbanos populares entre estrangeiros e indianos ricos, numa tentativa de causar o maior dano possível à economia do país e à sua reputação no cenário internacional.

No ano passado, 22 mil pessoas morreram em ataques terroristas em todo o mundo. Destas, 2.300 ¿ ou 10,5% ¿ estavam na Índia, segundo o relatório do Departamento de Estado americano.

A Índia tem atribuído a maior parte dos ataques a extremistas islâmicos baseados no Paquistão ou em Bangladesh, acusando-os de ter ligações com o serviço de inteligência paquistanesa. Outros grupos responsabilizados por atentados incluem rebeldes maoístas e separatistas do nordeste indiano.

No entanto, um novo grupo islâmico, os Mujahedin Indianos, reivindicou a responsabilidade por ataques a bomba no ano passado. Alguns dizem que se trata de uma nova frente de um antigo grupo chamado Movimento dos Estudantes Islâmicos da Índia, mas outros temem que novos grupos terroristas estejam surgindo no país.

Muçulmanos indianos se queixam de discriminação em mãos da maioria hindu. Muitos também se opõem ao controle indiano na Cachemira, região de maioria muçulmana que é reclamada por Índia e Paquistão. A al-Qaeda tem ameaçado atacar a Índia em retaliação por sua política na região.

O cenário se complicou ainda mais com a prisão, este mês, de um alto militar de inteligência suspeito de envolvimento num atentado a bomba de extremistas hindus no oeste do país, em setembro. Até então, o Exército sempre foi visto como um bastião do secularismo.

Extremistas islâmicos têm sido responsabilizados por ataques a Bombaim, incluindo o atentado a trens e estações ferroviárias que matou cerca de 200 pessoas em 2006. Também foram acusados de quatro dos cinco ataques a bomba a cidades indianas este ano.

Se a Índia acusar os serviços de inteligência do Paquistão de ligação com o atentado de ontem, pode causar uma nova crise nas relações bilaterais. Curiosamente, os atentados ocorrem num momento em que as relações entre os dois países melhoraram, e dias depois de o presidente paquistanês, Asif Ali Zardari, dizer em Nova Délhi, que seu país não lançaria um ataque de mísseis contra a Índia.

No domingo, o primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh, anunciou a criação de uma força-tarefa contra o terrorismo e alertou o país para a dimensão do problema.

¿ O tempo não está do nosso lado. Não podemos suportar o tipo de ataques que ocorreram em Délhi, Hyderabad, Bangalore, Mumbai, Ahmedabad, Surat, Guwahati.