Título: A dor de não voltar para casa
Autor: Daflon, Rogério
Fonte: O Globo, 01/12/2008, O País, p. 3

Em Blumenau, pelo menos 1.500 residências estão condenadas e terão de ser destruídas.

Na casa de Walter Zimmerman, de 62 anos, no Morro da Pedreira, em Blumenau, um adesivo colado ao lado da porta pela Defesa Civil municipal avisa: "Casa em situação de risco". A prefeitura colou a advertência em centenas de casas nas principais áreas de risco. Mas não convenceu Walter a abandonar o lar, embora a casa ao lado, onde moram sua filha com o genro e três netos já esteja vazia. Depois da tragédia, a prefeitura contratou geólogos e outros especialistas para examinar as encostas, e já sabe que muitas pessoas retiradas de áreas de risco pela Defesa Civil jamais poderão voltar a morar em suas casas. Segundo o secretário municipal de Planejamento Urbano de Blumenau, Valfredo Balistieri, pelo menos 1.500 casas estão condenadas e terão de ser destruídas. E este número ainda deve aumentar:

- De imediato, serão destruídas pelo menos 1.500 casas, seja em talvegues (desfiladeiros) ou em áreas onde houve deslizamentos. Mas esse número será maior. Se for o caso, essas pessoas terão de sair à força. Buscaremos amparo judicial para isso.

Seu Walter, guarda de trânsito aposentado, é um dos que não poderão continuar onde moram. Mas ele não se convence do perigo:

- Minha filha resolveu sair e ir com o marido e os filhos para um abrigo, porque ali em cima há uma casa que pode cair em cima da dela, mas não da minha.

Estudos do Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo (IPT) indicam que 60% das áreas de risco vistoriadas não poderão mais ser mais ocupadas. Casas terão de ser desocupadas com urgência para serem destruídas. São aquelas instaladas próximas do fluxo das águas dos morros, que têm mais chance de ir abaixo, e onde houve deslizamentos.

- O IPT terá um estudo conclusivo daqui a cinco dias. Isso se não chover. Hoje (ontem) foi o primeiro dia que Blumenau não teve chuva, desde 22 de novembro - disse Balistieri.

Psicólogos vão ajudar na mudança

Comandante do Batalhão do Corpo de Bombeiros de Blumenau, o coronel Carlos Menestrina disse que tirar pessoas de suas casas é o maior desafio da prefeitura, que, até agora, contabiliza 24 mortes na tragédia que arrasou Santa Catarina. Foi montada uma equipe de psicólogos e assistentes sociais para explicar que as pessoas serão levadas a um lugar provisório, mas que logo terão uma casa segura.

- O prefeito (João Paulo Kleinubing) busca recursos para fazer apartamentos para atender esses casos. Terão de ser feitos longe dos morros e do rios. Até encontrar um lugar seguro para esses prédios não será uma operação fácil - disse o coronel.

O prefeito diz que Blumenau terá de ser "totalmente repensada", e que muitas áreas terão de ser desocupadas. Anteontem, no bairro Progresso, houve nova queda de barreira. Duas pessoas foram salvas por pessoas que passavam pelo local e oficiais do Exército. Ontem, Maurício Farias tentava retirar um barranco numa área acima dessa encosta. No último dia 21, pagara a 25ª prestação de sua casa, agora soterrada. A família está num abrigo.

Desde o dia 30, a cidade teve cerca de três mil pontos de deslizamentos. Há mais de 25 mil desalojados e 4.980 mil desabrigados, estes em 57 abrigos. A população atingida é de 103 mil pessoas. O diretor de manutenção de bairros de Blumenau, Éder Marchi, disse que serão gastos cerca de R$300 milhões para reerguer a cidade, sem contar a contenção de encostas de morros nem a reconstrução das casas. Parte do dinheiro, por exemplo, será usada na entrada da cidade: uma cratera, já aberta, aumentou com as chuvas de anteontem e invadiu o terreno de uma revendedora de automóveis.

oglobo.com.br/pais