Título: Índia ameaça rever cessar-fogo na cachemira
Autor: Costa, Florência
Fonte: O Globo, 01/12/2008, O Mundo, p. 22

Acusações de ligação do Paquistão com atentados estremece relação dos países vizinhos, que disputam a região.

NOVA DÉLHI. A guerra de nervos entre Índia e Paquistão está cada vez mais acirrada. O governo indiano considera a hipótese de suspender os cinco anos de cessar-fogo com o Paquistão na conflituosa região da Cachemira, segundo informou a rede de TV CNN-IBN. Essa cartada está sendo analisada pelo governo para sinalizar que a Índia passou a jogar mais duro com o Paquistão. Também se estuda o aumento do número de militares na área fronteiriça com o Paquistão.

Índia acusa Paquistão de complacência

O governo indiano está sob uma forte pressão para endurecer o tom com o vizinho Paquistão devido às notícias de que os terroristas vieram daquele país e às evidências de que pertencem ao grupo islâmico extremista Lashkar-e-Taiba (LeT), baseado na parte da Cachemira ocupada pelo Paquistão.

Nova Délhi acusa Islamabad de não agir contra o LeT, que foi banido pelo então presidente Pervez Musharraf em 2002, mas apesar disso continua com campos de treinamento no país. Há setores do governo, no entanto, mais cautelosos, que defendem a proposta de que a Índia dê um prazo para que o Paquistão tome uma ação concreta para acabar com o LeT. Outra reivindicação da Índia é a de que o Paquistão extradite o terrorista indiano Dawood Ibrahim ¿ acusado de participação em vários atentados, inclusive o de Bombaim.

¿Nós esperamos que o Paquistão cumpra sua promessa de não permitir o uso de seu território por terroristas que cometam ações contra a Índia¿, cobrou o ministro de Relações Exteriores da Índia, Pranab Mukherjee, em comunicado oficial.

Paquistão ameaça abandonar a ¿guerra ao terror¿

O único terrorista capturado com vida, Ajmal Amir Kasab, é da região da Cachemira ocupada pelo Paquistão. Ele admitiu aos policiais indianos que pertence ao LeT e que foi treinado junto com outros terroristas mortos em campos do Paquistão. O primeiro-ministro paquistanês, Syed Yousuf Raza Gilani, nega qualquer ligação do ato terrorista com o seu país e pediu à Índia que pare de acusar o Paquistão sem enviar oficialmente provas disso.

¿ Eles (paquistaneses) podem dizer o que quiserem, mas nós não temos dúvida nenhuma de que os terroristas vieram do Paquistão ¿ disse Sriprakash Jaiswal, vice-ministro do Interior da Índia.

O clima de animosidade entre as populações dos dois países aumenta com a piora das relações políticas. Em Lahore, a capital cultural do país, paquistaneses saíram às ruas em protesto contra as acusações da Índia de que o país está envolvido nos atentados.

O governo paquistanês ameaçou abandonar a ¿Guerra ao terror¿ e retirar seus cem mil homens alocados na fronteira com o Afeganistão se a Índia aumentar o número de militares na região da Cachemira, disputada pelos dois países. A advertência preocupa os governos americano e britânico, que lutam contra militantes islâmicos no Afeganistão e na região Oeste do Paquistão ¿ onde se acredita que esteja escondido Osama bin Laden. O objetivo das potências ocidentais é que o Paquistão concentre todo o seu esforço no combate aos extremistas islâmicos no Oeste do país. O presidente eleito Barack Obama já sinalizou sua prioridade de atacar o terrorismo no Afeganistão e também no Paquistão.