Título: Troca na Infraero deve acelerar privatizações
Autor: Batista, Henrique Gomes; Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 02/12/2008, Economia, p. 27

Saída de Gaudenzi, que será substituído por executivo do setor privado, pode ser anunciada a qualquer momento.

BRASÍLIA. O governo federal pretende acelerar obras e, principalmente, dar prosseguimento ao projeto de privatização de terminais aeroportuários com a substituição, a ser anunciada a qualquer momento, de Sergio Gaudenzi na presidência da Infraero, estatal que administra os aeroportos mais importantes do Brasil. Conforme noticiou ontem Ancelmo Gois em sua coluna no GLOBO, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, já escolheu o executivo do setor privado Guilherme Lagger, com passagens por Vale e Varig, para comandar a Infraero.

A troca tentará dar agilidade à estatal e mantê-la alinhada ao Planalto. Um executivo, sem ligações partidárias, é considerado menos suscetível a se render aos apelos corporativos - a Infraero é influenciada pelos militares, tem um corpo técnico com posições arraigadas e tem sido alvo de nomeações políticas. Um dos principais objetivos da mudança é agilizar a concessão de terminais aeroportuários - especialmente Tom Jobim/Galeão e Viracopos (Campinas) - à iniciativa privada.

Gaudenzi foi levado ao cargo por Jobim durante o caos aéreo, em agosto de 2007. Os rumores de que ele deixaria a estatal são antigos, mas a situação ficou praticamente insustentável depois que Gaudenzi expôs publicamente seu ponto de vista contrário aos planos do Executivo de repassar alguns aeroportos à iniciativa privada - idéia de Jobim e da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, já chancelada interna e publicamente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Segundo seus interlocutores, Gaudenzi recentemente se desentendeu com Dilma e ameaçou pedir demissão. Para a ministra, o presidente da Infraero, em vez de cumprir sua missão, foi cooptado pelos militares e os interesses corporativos. Jobim tem evitado o subordinado, segundo presentes à ultima reunião setorial na Defesa, semana passada, que discutiu a operação de fim de ano nos aeroportos.

Para presidente da estatal, vender aeroportos é equívoco

Ontem, ao GLOBO, Gaudenzi negou que sua saída da Infraero esteja definida. A Defesa não quis comentar. Mas o presidente da estatal deixou claro que não tocará a proposta de privatização:

- Falta bater o martelo sobre a venda isolada dos aeroportos. No dia em que o martelo for batido, não tem discussão, entrego o meu cargo imediatamente, porque não posso conduzir um trabalho no qual não acredito - disse Gaudenzi, que deve disputar uma vaga de deputado federal pelo PSB, ao qual é ligado.

Ele afirmou ainda que a Infraero vai perder renda e os aeroportos deficitários vão passar a disputar verba com Saúde e Educação:

- Acho a privatização individual de alguns aeroportos, os mais rentáveis, um equívoco. Tenho falado isso várias vezes, e Jobim em momento algum me falou para ficar calado.

Essa postura deu a Gaudenzi desafetos até no Ministério da Fazenda. Ele tem feito estudos mostrando que as tarifas ficarão mais caras com aeroportos nas mãos da iniciativa privada e é contra a liberdade tarifária dos serviços aeroportuários. Gaudenzi tem o apoio do Comando da Força Aérea (FAB), que considera difícil compartilhar as bases militares, presentes nos grandes aeroportos, com a iniciativa privada. A questão do tráfego aéreo também fica em xeque, na visão dos militares. O corpo técnico da Infraero, que criou blog contra as privatizações, também é seu aliado.

COLABORARAM Cristiane Jungblut e Gerson Camarotti