Título: Risco potencial para uma batalha de egos
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 02/12/2008, O Mundo, p. 29

WASHINGTON. A primeira reação generalizada em relação à equipe de segurança nacional anunciada ontem por Barack Obama, foi um misto de admiração e incredulidade ao se confirmar a sua audácia, por conta dos riscos implicados nessa escolha. Onde ele viu a certeza de coesão e firmeza, muita gente viu um claro potencial para uma batalha de egos.

Antecipando-se aos analistas e políticos, o próprio Obama argumentou:

¿ Montei essa equipe porque creio fortemente em personalidades fortes e sólidas opiniões. Eu acho que é assim que as melhores decisões são tomadas.

O elo mais frágil estaria entre Hillary Clinton e Robert Gates. Trata-se, na verdade, de uma percepção tradicional nos Estados Unidos, onde freqüentemente os secretários de Estado e de Defesa mediram forças entre si. Isso aconteceu especialmente no atual governo.

Certamente por esse motivo Obama escolheu o general da reserva James L. Jones como conselheiro de Segurança Nacional. Ele é moderado, ninguém sabe sua afiliação política (é admirado tanto por republicanos quanto por democratas), e é tido como exímio mediador.

Obama, no entanto, sugeriu que a idéia principal foi mesmo a de reunir pessoas que pensam de maneira diferente, como se viu na sua equipe de campanha eleitoral:

¿ Um dos perigos na Casa Branca, segundo minhas leituras de História, é que você acaba ficando encerrado num pensamento de grupo em que todo mundo concorda com tudo e não há discussão, não há discordância. Portanto, eu estarei aberto a um debate vigoroso dentro da Casa Branca ¿ afirmou.

Obama disse ainda que espera ver ¿diferenças táticas¿, reafirmando que por isso mesmo escolheu as pessoas nomeadas ontem. E completou deixando claro que os debates resultarão em ações que, no final, serão moldadas por ele:

¿ Entendo que eu, como presidente, vou ajustar as políticas. Serei o responsável pela visão que essa equipe executará, e eu espero que ela a implemente uma vez que as decisões forem tomadas. (José Meirelles Passos)