Título: Em busca da imagem perdida
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 02/12/2008, O Mundo, p. 29
Obama apresenta equipe de segurança e oficializa Hillary como secretária de Estado.
Ao anunciar ontem a sua equipe de segurança nacional, o presidente eleito Barack Obama procurou claramente apagar a péssima impressão que o mundo tem dos Estados Unidos e recuperar o prestígio e o respeito que o seu país tinha até oito anos atrás, prometendo "um novo amanhecer da liderança americana". E ele fez isso reconhecendo que, para tanto, será preciso "renovar velhas alianças e forjar novas e duradoura parcerias".
Obama disse que os desafios à segurança nacional hoje são mais graves "e também tão urgentes quanto a nossa crise econômica", acrescentando que além de os EUA estarem lutando em duas guerras e velhos conflitos ainda permanecerem não resolvidos, a dependência americana ao petróleo importado "dá poder a governos autoritários e põe em risco o nosso planeta".
- O traço comum que liga tais desafios é a realidade fundamental que no século XXI o nosso destino é compartilhado com o do mundo - reconheceu, e acrescentou: - Devemos agir com o entendimento de que agora, mais do que nunca, nós temos a ver com o que acontece em todo o globo. E, como aprendemos de forma tão dolorosa em 11 de Setembro (de 2001), perceber que o terror não pode ser contido pelas fronteiras, e a segurança tampouco ser fornecida apenas pelos oceanos - disse, numa clara inversão à política implantada pelo presidente George W. Bush.
Já se sabia quem seriam os seis nomes anunciados oficialmente ontem. No entanto, um detalhe chamou a atenção: o de ele ter resolvido transformar o cargo de embaixador dos EUA na Organização das Nações Unidas num ministério - como acontecera no governo de Bill Clinton.
Com tal gesto, o novo presidente sinaliza para o mundo que, ao contrário de Bush, privilegiará o multilateralismo. O posto será ocupado por Susan Rice, uma das conselheiras mais próximas de Obama:
- Ela compartilha de minha crença de que a ONU é um fórum indispensável e imperfeito, e levará a mensagem de que o nosso comprometimento com ações multilaterais deve ser emparelhado com o compromisso de reforma. Precisamos que a ONU seja mais efetiva como um cenário para a ação coletiva.
Uma integrante "dura, inteligente e disciplinada"
Hillary Clinton, a sua maior rival na campanha eleitoral, e que será a secretária de Estado, prometeu dar tudo de si para implantar uma política que, ao mesmo tempo que procurará defender os EUA, "estenderá a mão ao mundo":
- Os EUA não podem resolver as crises sem o mundo, e o mundo não pode resolvê-las sem os EUA - disse ela, acrescentando que o novo governo também sabe que "os problemas não podem ser resolvidos só pela força e tampouco só pelos EUA".
Obama, que chegou a se referir a Hillary como "minha querida amiga", a definiu como "dura, inteligente e disciplinada", além de dizer que ela defende os mesmos valores essenciais que ele. O vice-presidente eleito, Joe Biden, disse que ela e toda a equipe "têm um claro entendimento sobre as forças que hoje dão forma a um novo mundo", citando China, Brasil e Índia como exemplos.
Ao manter Robert Gates como secretário de Defesa (ele tinha sido diretor da CIA no governo de Bush pai), Obama mais uma vez acenou para a oposição com a promessa de governar ouvindo ambos os lados. Moderado, Gates tem feito discursos dizendo que há limites ao poder militar. E, ao tocar nisso, usa, em tom crítico, uma estatística que demonstra uma falha americana: a de que há mais homens e mulheres nas bandas militares dos EUA do que no Ministério de Relações Exteriores.
James Jones, general da reserva, que será o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, foi apresentado por Obama como alguém capaz de usar "todos os elementos do poder americano para derrotar ameaças não convencionais e promover os nossos valores".
Ao nomear Eric Holder como o primeiro procurador-geral de Justiça negro, Obama alfinetou Bush mais uma vez, dizendo que o escolhido "protegerá nosso povo, sustentará a confiança da opinião pública e vai aderir à nossa Constituição" - clara referência ao fato de o atual governo permitir a tortura e espionar os seus próprios cidadãos sem mandato judicial. A equipe foi completada por Janet Napolitano, governadora do Arizona -"que entende como ninguém os perigos de uma fronteira insegura". Ela chefiará o Departamento de Segurança Interna.
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