Título: Terroristas de Bombaim realizaram treinamento de um ano com ex-soldado
Autor: Costa, Florência
Fonte: O Globo, 02/12/2008, O Mundo, p. 30

Radicais mantiveram contato constante com pessoas no Paquistão durante ação

NOVA DÉLHI. O treinamento dos terroristas que paralisaram Bombaim por três dias, deixando quase 200 mortos, teria durado um ano nos campos do grupo Lashkar-e-Toiba (LeT), e teria sido dado por um ex-militar paquistanês, já aposentado. A informação ¿ publicada em vários jornais e canais de TV indianos ¿ foi dada pelo único terrorista capturado com vida, Mohammed Ajmal Amir Qasab, de 21 anos, segundo fontes do serviço de inteligência e da polícia envolvidas nas investigações. Qasab teria admitido também pertencer ao LeT. Segundo ele, os terroristas foram treinados pelo ex-soldado paquistanês Abdul Rahman.

Segundo os relatos, houve um forte treinamento físico de três meses, que incluía corridas diárias de 15 quilômetros. Os três meses seguintes foram dedicados ao treinamento marítimo, como nadar e mergulhar, além de navegar embarcações. O restante do tempo teria sido dedicado ao uso de munição e armamentos.

A intenção era matar cinco mil pessoas e explodir os hotéis Taj Mahal e Oberoi. A idéia era que os terroristas voltassem a Karachi, a cidade paquistanesa de onde o grupo partiu. Segundo fontes, Qasab informou que todos os terroristas eram do Paquistão, como ele. Os investigadores informaram à mídia indiana que os radicais levavam vários artigos de uso pessoal fabricados no Paquistão, como papel higiênico, creme de barbear e leite em pó.

Os terroristas usaram aparelhos eletrônicos de último tipo, como celulares BlackBerry, GPS para navegar no Mar da Arábia, e telefones por satélite pelos quais recebiam instruções de Karachi. O jornal ¿Mail Today¿ divulgou ontem trechos de transcrições das conversas dos terroristas. ¿Não desista, você deve voltar ao Paquistão¿, dizia uma das mensagens. Quando ficou claro que os terroristas não conseguiriam voltar ao seu país, a pessoa que dava as orientações de Karachi passou a falar em ¿martírio¿ e ¿causa¿, e exortou um deles a seguir no ¿sacrifício final em nome de Alá¿. Na etapa final do ataque, os terroristas procuraram economizar munição, e passaram a matar os reféns cortando as suas gargantas com facas, em vez de atirar.

FBI e Scotland Yard ajudam a investigar ataques

O número de terroristas que entrou em Bombaim ainda é uma incógnita. Num primeiro momento, o ministro-chefe do estado de Maharashtra (do qual Bombaim é a capital) informou à mídia que entre 20 e 25 terroristas participavam do ataque. A versão oficial mudou, e hoje a polícia diz que nenhum fugiu: nove foram mortos e um preso. Outro indício de que o número de terroristas era superior aos capturados e mortos foi a quantidade de coletes salva-vidas achados nos barcos usados para a entrada dos radicais em Bombaim: havia 15 coletes no total.

Outra informação que está sendo investigada é a possibilidade de os terroristas terem contado com ajuda de indianos.

Equipes de investigadores de vários países chegaram à Índia para participar das investigações do atentado, que matou 22 estrangeiros, a maioria americanos, britânicos e israelenses. Participam do trabalho o FBI, dos EUA, a britânica Scotland Yard, além de policiais australianos e israelenses. Segundo o jornal ¿The Hindu¿, um e-mail enviado pelo grupo Mujahedin do Deccan ¿ que assumiu o atentado, mas é considerado por alguns especialistas uma fachada para o LeT ¿ teve procedência do Paquistão. O GPS usado no barco estaria também programado para voltar a Karachi.

Ontem caiu o ministro-chefe do estado de Maharashtra Vilasrao Deshmukh, que revoltou os indianos ao levar o filho, ator de Bollywood, e um amigo diretor de cinema para um passeio pelo Taj Mahal no dia seguinte ao combate. O diretor teria pedido para ir lá porque estaria interessado em fazer um filme inspirado na tragédia. (F.C.)