Título: Extremistas ligados a militares do Paquistão
Autor: Costa, Florência
Fonte: O Globo, 02/12/2008, O Mundo, p. 30

O principal suspeito do ataque a Bombaim, o Lashkar-e-Toiba (LeT), é o maior e mais violento dos grupos islamistas que lutam contra a Índia por uma Cachemira separada. Com o passar dos anos, ele construiu ligações próximas com a al-Qaeda e com o ISI, o serviço de inteligência militar do Paquistão.

Foi a política de bombas e tiros do LeT na Índia que levou Paquistão e Índia, duas potências nucleares, para a beira de um conflito nos últimos anos. A ligação com o ISI, muitas vezes descrito como um Estado dentro de um Estado no Paquistão, pode mais uma vez fazer com que as relações entre a Índia e o Paquistão atinjam níveis incendiários se forem descobertas provas de que a agência de inteligência teve envolvimento no ataque.

Nova Délhi acusou Islamabad repetidas vezes de colaborar ativamente com os ataques do grupo e ameaçou retaliar. Os paquistaneses negam as acusações e lembram que a organização foi banida no país.

Analistas indicam que a defesa paquistanesa não é sincera. É verdade que o grupo foi declarado fora da lei pelo ex-presidente Musharraf sob pressão americana, em 2002, após atentados em Nova Délhi. Porém, o Lashkar continua a existir sob o nome de Jama¿at-ud-Da¿wah. E o atual governo civil parece impotente para conter o grupo que o Estado paquistanês um dia ajudou a criar.

O LeT recebe financiamento e recrutas da Cachemira, além da comunidade paquistanesa. Um de seus famosos integrantes era Rashid Rauf, que era procurado por ter ligação com o plano para explodir aviões transatlânticos. Ele teria sido morto num recente ataque dos EUA no Waziristão do Norte.

O Lashkar mantém uma relação próxima com a al-Qaeda e outras organizações jihadistas. Alguns de seus guerrilheiros foram mortos num acampamento da al-Qaeda quando Bill Clinton ordenou ataques com mísseis contra Osama bin Laden, depois de atentados a bomba na embaixada americana na capital do Quênia. A base da organização em Muridke, perto de Lahore, foi usada como esconderijo de importantes membros da al-Qaeda.

Ele foi fundado em 1991 por Hafiz Saeed na província de Kunar, no Afeganistão, para lutar contra o governo marxista de Cabul. Enviou seus membros para lutar ao lado do Talibã no Afeganistão. Paquistaneses, assim como árabes e chechenos, estiveram entre as forças do Lashkar enviadas para a Cachemira para lutar contra a Índia.

O grupo quer a destruição da Índia e de Israel, e tem também o objetivo de introduzir o islamismo onde quer que tenha havido uma significativa população muçulmana em qualquer ponto da História, inclusive Espanha, Rússia e China.

Cachemira e Índia, no entanto, são os palcos da maior parte de sua atividade, com algumas de suas ações na Índia sendo conduzidas por grupos islâmicos internos, como os Mujahedin Indianos. O grupo é acusado de assassinatos em massa de siques e hindus na Cachemira; a morte de 90 pessoas na cidade de peregrinação hinduísta de Benares; 211 mortes em bombas em trens de Bombaim; e do ataque de 2001 ao Parlamento indiano.

KIM SENGUPTA é colunista do The Independent