Título: Índia exige ação do Paquistão contra terror
Autor: Costa, Florência
Fonte: O Globo, 02/12/2008, O Mundo, p. 30

Nova Délhi, que elevou categoria de segurança para `nível de guerra¿, acusa paquistaneses de participação nos atentados.

NOVA DÉLHI. A Índia desferiu o seu primeiro tiro diplomático na direção do Paquistão ao fazer ontem o seu primeiro protesto formal ao país vizinho, informando que o ataque a Bombaim foi executado por radicais paquistaneses e exigindo uma ação contra os responsáveis.

O governo indiano convocou ontem o enviado paquistanês à sede do Ministério do Exterior, em Nova Délhi, para fazer o comunicado. Segundo as investigações, os terroristas islâmicos que atacaram Bombaim foram treinados no Paquistão por um ex-integrante do Exército. Os dois países, que travaram três guerras desde 1947, não mantêm embaixadas, apenas representantes no vizinho.

¿ Ele (o enviado paquistanês) foi informado que o ataque a Bombaim foi realizado por elementos do Paquistão. O governo espera que haja uma rápida ação contra esses elementos, quem quer que sejam eles ¿ disse o governo indiano, em nota.

A Índia elevou a categoria do alerta de segurança do país para ¿nível de guerra¿. Palaniappan Chidambaram, o novo ministro do Interior que assumiu domingo, disse ontem que Nova Délhi vai responder ¿com determinação¿ às ameaças ao país.

¿ Essa é uma ameaça à própria idéia da Índia, à alma da Índia ¿ afirmou Chidambaram.

¿ O que está ocorrendo é um retrocesso no processo de normalização das relações e da confiança ¿ disse o vice-ministro do Exterior da Índia, Anand Sharma, referindo-se ao processo de paz com o Paquistão.

A agência de notícias Press Trust India informou que setores do governo discutem a possibilidade de romper o cessar-fogo de cinco anos com o Paquistão. A informação foi, mais tarde, negada pelo governo.

Premier do Paquistão busca consenso político no país

O premier do Paquistão, Yousaf Raza Gilani, convocou para amanhã uma reunião dos líderes dos diferentes movimentos políticos do país para chegar a um ¿consenso político nacional¿ com relação à Índia. Gilani disse ontem, em entrevista à TV indiana NDTV, que o governo do Paquistão ainda não viu provas ligando paquistaneses ao ataque.

O governo do Paquistão também chamou à sua Chancelaria o enviado indiano ao país, Satyabrata Pal. O motivo oficial foi dar uma ¿resposta¿ à Índia por suas acusações.

Mas o vice-ministro do Interior indiano, Sri Prakash Jaiwal, foi categórico ao afirmar que ¿não há dúvidas de que os terroristas vieram do Paquistão¿:

¿ Nós temos evidências, sim, de suas nacionalidades. E vamos revelá-las logo.

Preocupados com a escalada de tensão entre as duas potências nucleares, os EUA enviaram a secretária de Estado, Condoleezza Rice, a Nova Délhi, onde chegará amanhã. Ontem, em Londres, ela comentou:

¿ Não quero me apressar e chegar a qualquer conclusão, mas acho que esta é a hora de haver uma transparência completa, absoluta e total, e cooperação. É isso que esperamos (do Paquistão) ¿ disse ela.

O presidente do Paquistão, Asif Ali Zardari ¿ viúvo de Benazir Bhutto, a ex-premier assassinada em dezembro de 2007 em atentado realizado por radicais islâmicos ¿ fez um apelo ao governo indiano, em entrevista ao jornal ¿Financial Times¿: o de não punir seu país, porque essa atitude pode fazer com que os extremistas islâmicos iniciem uma guerra. ¿Mesmo que os radicais estejam ligados ao Lashkar-e-Toiba, quem você acha que estamos combatendo?¿, questionou Zardari.