Título: Banqueiro tentou infiltrar pessoas no STF, diz juiz
Autor: Freire, Flávio; Farah, Tatiana
Fonte: O Globo, 03/12/2008, O País, p. 5

Coronel da reserva foi contratado em julho e demitido em outubro.

SÃO PAULO e BRASÍLIA. Em sua sentença, o juiz Fausto de Sanctis diz que o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, nomeou para um cargo de confiança na Secretaria de Segurança do STF uma pessoa supostamente ligada ao grupo do banqueiro Daniel Dantas. A nomeação ocorreu depois que a Satiagraha foi deflagrada. Para o juiz, foi uma tentativa do banqueiro de infiltrar uma pessoa no STF.

O coronel da reserva do Exército Sérgio de Souza Cirillo foi nomeado para o cargo comissionado de Assessor I do Gabinete do secretário de Segurança do STF, nível CJ-1, no dia 30 de julho deste ano, três semanas depois de a operação ser deflagrada. Dois meses depois, em 6 de outubro, Cirillo foi exonerado.

A assessoria de imprensa do STF confirmou que Cirillo pertenceu aos quadros do STF entre julho e outubro deste ano. Mas disse que ele e seu superior imediato, o secretário de Segurança do STF, coronel Joaquim Gabriel Alonso Gonçalves, foram demitidos "por uma questão administrativa". A assessoria afirma que a exoneração dos dois não tem qualquer ligação com desdobramentos da Satiagraha, e que Gilmar ficou surpreso com a sentença de De Sanctis.

Especialista em guerra eletrônica e contra-inteligência, Cirillo foi secretário executivo do Instituto Sagres, uma organização social formada por militares da reserva sediada em Brasília, que presta serviços de "prospecção, cenários de futuro e estratégias políticas". Hugo Chicaroni, condenado ontem a sete anos de prisão sob acusação de intermediar uma oferta de propina de Dantas para um delegado da PF, também integrava o instituto.

Chicaroni telefonou nove vezes para Cirillo entre os dias 4 de junho e 7 de julho (véspera da Operação Satiagraha). O período coincide com as negociações para o pagamento de propina ao delegado da PF (18 a 25 de junho). No dia 6 de outubro, Cirillo foi exonerado.

"Tal fato revela, pois, que os acusados, para alcançar seus objetivos espúrios, dias antes de oferecer e pagar vantagem às autoridades policiais, atuavam sem medir esforços em suas tentativas de obstrução de procedimento criminal, tentando espraiar suas ações em outras instituições", escreveu De Sanctis na sentença.

O presidente do Instituto Sagres, Raul Sturari, confirmou que Chicaroni e Cirillo já ocuparam cargos na diretoria da entidade. Segundo ele, Chicaroni foi afastado da diretoria de Relações Internacionais na semana em que foi flagrado oferecendo propina a um delegado. Cirillo teria deixado o instituto em junho, por vontade própria, para ocupar o cargo no STF. O advogado de Daniel Dantas, Nélio Machado, negou que o banqueiro tenha contato com Cirillo.

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