Título: Paulinho marcha no dia de seu julgamento
Autor: Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 03/12/2008, O País, p. 11

Acusado de quebra de decoro, deputado tenta mostrar força levando centrais sindicais a Brasília.

BRASÍLIA. No dia que o Conselho de Ética retoma a votação do pedido de abertura de processo para cassação de seu mandato, o deputado e presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), tenta novamente mostrar força e lidera, na Esplanada, a 5ª Marcha das Centrais Sindicais. O evento pretende reunir, em Brasília, cerca de 30 mil pessoas, para pressionar pela aprovação de projetos como o que acaba com o fator previdenciário (fórmula de cálculo das aposentadorias) e o que reduz a jornada de trabalho para 40 horas semanais.

Paulinho diz que é coincidência, pois a manifestação já estava marcada antes. Semana passada, enquanto o relator Paulo Piau (PMDB-MG) lia seu relatório no Conselho pedindo a abertura do processo por quebra de decoro e participação na máfia de desvio de recursos do BNDES, Paulinho estava no Planalto, numa solenidade, e, mais tarde, jantou com o presidente Lula. Para tentar evitar a rejeição, a oposição pediu vista, e o relatório volta hoje à votação.

Além de suspeita de liderar a máfia que atuava para desviar recursos liberados pelo BNDES, o deputado é investigado por desvios de recursos públicos em outras três frentes pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Num dos processos, já transformado em ação penal, Paulinho e outras 11 pessoas, entre elas o ex-conselheiro do BNDES João Pedro de Moura - também acusado de participar do esquema fraudulento -, são réus e acusados de crime de estelionato, falsidade ideológica e falsificação de documentos. O grupo comandado pelo deputado teria obtido empréstimo fraudulento, com falsificação de documentos, no Ministério do Desenvolvimento Agrário, ainda no governo passado, de R$2,8 milhões, para um projeto de reforma agrária para 72 famílias.

Com o dinheiro, teriam comprado com superfaturamento de 77,3% a Fazenda Ceres, em Piraju (SP), por R$3,2 milhões, mas como 50% da terra eram áreas de preservação ambiental, o projeto se inviabilizou. A defesa de Paulinho diz que há conflito entre a avaliação real e um laudo apresentado pelos promotores.

Um dos dois inquéritos instaurados pelo STF apura a contratação, sem licitação, da Fundação João Donini pela Força Sindical, em Piraju, por R$215 milhões. A Fundação deveria ministrar cursos profissionalizantes para desempregados e pessoas de baixa renda, custeados por recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). O Ministério Público Federal em Ourinhos (SP) apurou que, dos 26.991 nomes de alunos matriculados nos cursos, 24.948 números de CPF se repetiam.

O segundo inquérito, que tramita em segredo de Justiça no STF, apura a mesma denúncia do Conselho - a participação de Paulinho num esquema de liberação de empréstimos fraudulentos para prefeituras de São Paulo, mediante propinas.