Título: Indústria no vermelho, PIB em queda
Autor: Bôas, Bruno Villas; Ribeiro, Fabiana
Fonte: O Globo, 03/12/2008, Economia, p. 21

Com crise, produção cai 1,7% em outubro e analistas já vêem retração da economia.

As indústrias brasileiras foram atingidas pela turbulência da crise global em outubro, mais do que o previsto pelo mercado. A produção caiu 1,7% frente a setembro, pior desempenho em uma comparação mensal desde novembro de 2007, quando recuou 2,1%. Com o resultado, divulgado ontem pelo IBGE, analistas refizeram as contas e estimaram que o Produto Interno Bruto (PIB) - soma de todos os bens e serviços produzidos pelo país - ficará negativo no quarto trimestre deste ano. Ou seja: a economia brasileira vai encolher entre outubro e dezembro.

O resultado foi influenciado por férias coletivas e paralisações (planejadas ou não) em vários setores da economia. O maior impacto veio de bens intermediários (insumos para fabricação de produtos), que recuou 3% ante setembro, no pior desempenho desde outubro de 2001 (-3,04%).

- O mês marca a entrada no novo cenário econômico, com uma mudança brusca. Está claro: a crise impactou o resultado - disse Silvio Sales, coordenador de indústria do IBGE.

Todas as categorias produziram menos em outubro ante setembro. Caiu ainda a produção de bens de capital (-0,5%) e consumo duráveis (-4,7%) e semi e não duráveis (-2,2%). Recuo também foi observado em 15 dos 27 setores pesquisados pelo IBGE, com destaque para produtos químicos (-11,6%) - afetado pelo câmbio que elevou custos de importação e provocou paralisações. Em refino de petróleo e álcool houve queda de 9% devido à parada técnica da Refinaria Henrique Lage (Revap), da Petrobras.

- A questão agora é saber se esse impacto se concentra em outubro, quando se agudizaram os problemas de câmbio e crédito, ou se esse nível de queda vai se manter pela frente.

Recuperação só virá em 2009

Sales destacou a queda na produção de automóveis, de 1,4% em outubro frente a setembro, após crescer 0,5% em setembro. O setor foi afetado pela escassez de crédito e diversas montadoras anunciaram paralisação e férias coletivas.

Comparada a outubro de 2007, porém, a produção industrial cresceu 0,8%. O calendário favorável em outubro (um dia útil) - contribuiu. Embora em alta, foi o menor crescimento desde dezembro de 2006 (0,3%). A produção acumula evolução de 5,8% no ano e 5,9% nos 12 meses.

Com os resultados de ontem, a LCA Consultores reviu as projeções para o PIB. O resultado previsto para o quarto trimestre passou de zero para queda de 0,5%, na comparação ao trimestre anterior. Em relação aos três últimos meses de 2007, o ritmo de crescimento projetado passou de 3% para 2,5%. Para Bráulio Borges, economista da LCA, o desempenho do setor industrial surpreendeu ao ficar bem abaixo do previsto:

- A tendência agora é de um PIB negativo no quatro trimestre. Tudo indica que novembro foi muito pior.

Sérgio Vale, economista da MB Associados, também prevê retração no PIB do quarto trimestre, de 0,3% na margem. Para ele, o números apontam para o "início do processo de desaceleração da economia brasileira".

- Esperamos uma recuperação gradual. Nada espetacular, mas uma melhora no segundo trimestre de 2009 - disse Vale, que acredita que o Banco Central não mexa na Selic.

Para o economista Leonardo Carvalho, do Ipea, a desaceleração não seria suficiente para um corte nos juros na próxima reunião do Copom. Ele explicou que há pressões inflacionárias devido ao câmbio.

Segundo Jose Alfredo Coutino, economista sênior para a América Latina da Moody"s, o Brasil, apesar da desaceleração da indústria, não está perto de uma "recessão técnica". Para ele, contudo, a política monetária está na direção errada.

- É necessário que o Banco Central comece a cortar a taxa de juros antes que seja tarde.

LULA: JUROS ESTÃO ACIMA DO BOM SENSO, na página 22