Título: Sob pressão, Sarney pede cabeças dos diretores
Autor: Colon, Leandro; Krieger, Gustavo
Fonte: Correio Braziliense, 18/03/2009, Política, p. 04

Presidente do Senado exige que 131 chefes da Casa entreguem os cargos e, assim, tenta assumir o controle da crise instalada

Pressionado pela onda de denúncias contra o Senado, o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP) reagiu. Exigiu ontem que todos os 131 diretores e subdiretores coloquem os cargos à disposição. Foi um ato político, com um olho na opinião pública e outro nas disputas internas. Na prática, os cargos sempre estiveram à disposição de Sarney. Cabe ao presidente nomear e demitir os ocupantes das diretorias. Com o gesto, ele quis sair da defensiva e assumir o controle da crise que assola o Senado desde sua posse. Hoje, anuncia um convênio com a Fundação Getúlio Vargas (FGV) para uma grande auditoria.

Ontem pela manhã, os aliados encontraram um Sarney muito irritado. Voltou a reclamar que está gastando todo o seu tempo administrando as denúncias. A gota d¿água foi a acusação de que parentes dele teriam viajado do Maranhão para Brasília com passagens pagas pelo Senado e se hospedado na residência oficial da Presidência. Publicada por um jornal que lhe faz oposição no Maranhão, a notícia ganhou repercussão nacional. ¿Querem dizer até quem pode dormir na minha casa¿, reclamou. Somente no ano passado, o Senado gastou R$ 20 milhões com passagens aéreas.

Sarney busca desvincular-se das denúncias. ¿Não tenho compromisso com o que estiver errado¿, disse aos aliados. ¿Quem errou, será demitido.¿ Na verdade, os dois diretores que foram efetivamente demitidos até agora, Agaciel Maia e João Carlos Zoghbi, chegaram ao poder pelas mãos dele, em gestões anteriores. O primeiro, então diretor-geral, saiu após a acusação de ter ocultado uma mansão no Lago Sul, enquanto o segundo perdeu a diretoria de Recursos Humanos na sexta-feira passada depois da revelação de que repassou aos filhos um apartamento funcional. Os dois deram as cartas no Senado por 15 anos.

A aliados, Sarney disse ainda ter se surpreendido com o número de funcionários com status de diretor. São 131 diretores e 81 senadores. O Correio revelou em janeiro esse processo de multiplicação de diretorias, executado ao longo dos últimos oito anos. A estrutura foi triplicada num efeito cascata que engordou a conta de muitos funcionários com adicionais nos salários que variam entre R$ 1,3 mil a R$ 2,2 mil. Cada setor criado, em muitos casos, não passa de uma mesa, mas quem o comanda recebe uma gratificação para administrar um serviço que deveria ser desempenhado por uma equipe. O servidor acaba sendo chefe de si mesmo. ¿Quem quiser continuar no cargo vai ter que explicar o que fazia e porque merece ser diretor¿, diz uma pessoa ligada ao presidente do Senado.

Ontem, a reportagem revelou que a Casa aumentou em 122% o gasto com empresas terceirizadas. Cerca de R$ 460 milhões foram usados nesse tipo de serviço. O valor surpreendeu Sarney. A medida adotada ontem não significa que todos os 131 diretores e subs serão demitidos. O senador vai examinar caso a caso. Ele queria limpar o cenário. Avalia que boa parte das denúncias é resultado de brigas internas. Funcionários interessados em derrubar diretores estariam vazando informações contra eles. Ao pedir todos os cargos, ele quer colocar ordem nessa guerra. Desde a campanha, Sarney anunciava a intenção de promover uma ¿reforma do legislativo¿, que iria das questões políticas à administração da Casa. O movimento contra os diretores e a auditoria da FGV são peças importantes em sua estratégia.

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