Título: Conselho de Ética livra Paulinho
Autor: Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 04/12/2008, O País, p. 3

Relator pediu cassação, mas deputado conseguiu escapar, apesar das apurações na Justiça.

O Conselho de Ética da Câmara rejeitou ontem o relatório do deputado Paulo Piau (PMDB-MG) e absolveu, por dez votos a quatro, o deputado e presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho. O relator pedira a abertura de processo por quebra de decoro e perda de mandato pelo suposto envolvimento de Paulinho em desvio de recursos do BNDES, apurado pela Operação Santa Teresa, da Polícia Federal. O deputado foi absolvido com votos da base aliada, do PT e do PMDB, mas dois oposicionistas, do DEM e do PSDB, contribuíram para ampliar sua vitória. Ausente da votação, Paulinho liderava a 5ª Marcha das Centrais Sindicais, na Esplanada, quando foi avisado do resultado. Fez questão de passar pelo Salão Verde da Câmara, com sindicalistas.

O deputado negou acordo pela sua absolvição com o PT e os deputados do Bloquinho (PSB-PDT-PCdoB) em troca de apoio à candidatura de Marta Suplicy e Aldo Rebelo (PCdoB-SP) em São Paulo, e de Michel Temer (PMDB-SP) à presidência da Câmara.

- Tive votos do PSDB e do DEM também. O Conselho fez justiça. Não tem uma coisa contra mim, nem cheque, nem nada, só ilação - disse Paulinho, negando que sua absolvição seja mais uma prova de que tudo, no Conselho, acaba em pizza: - A pizza era contra mim. Fiquei seis meses na geladeira. Não tive a chance de falar das injustiças cometidas contra mim.

Ainda no Salão Verde, ele atendeu a um telefonema, fazendo questão de mostrar que falava com o deputado Aldo Rebelo. Nos corredores, era parabenizado pelos colegas. Paulinho reclamou do que chamou de "perseguição política da imprensa contra os trabalhadores". Segundo ele, no outro inquérito que corre contra ele no Supremo Tribunal Federal (STF), para apurar desvios de recursos do Fundo de Amparo do Trabalhador (FAT), há a mesma acusação contra outras instituições e centrais sindicais, citando a Fiesp e a Fundação Roberto Marinho.

"Existem fatos e provas", diz relator

Na sessão, que durou menos de uma hora, o relator insistiu que há comprovação de quebra de decoro pelo envolvimento de Paulinho com pessoas acusadas de participar do desvio de recursos do BNDES:

- Estudei o processo exaustivamente. Meu relatório é técnico, é a expressão da verdade. Não existem suposições, mas fatos e provas, e as provas apontam a existência do desvio de verbas do BNDES. O deputado Paulo sabia, protegia e se beneficiava do esquema, embora não tenha recebido recursos na sua conta - disse.

Deputados da tropa de choque de Paulinho chegaram a interromper o relator e criticá-lo, de forma ríspida. Aos berros, Wladimir Costa (PMDB-PA) protestou que Piau não tinha o direito de acusá-los de corporativismo por defender Paulinho. Os dois deputados do PT, Leonardo Monteiro (MG) e Fernando Melo (AC), limitaram-se a anunciar o voto pela absolvição, sem maior discussão.

- Não houve provas de que Paulinho pegou dinheiro do esquema. Não é caso para cassação. Estou com a consciência tranqüila. Eu apoiaria outro tipo de punição parcial - disse Monteiro.

O tucano Rômulo Gouveia (PB) argumentou que, apesar da orientação do partido para votar pela cassação, votou pela absolvição porque considerou o relatório inconsistente. Para evitar surpresas de última hora, a articulação entre os que eram favoráveis a Paulinho foi total. Suplentes no Conselho, os deputados José Carlos Araújo (PR-BA) e Marcelo Ortiz (PV-SP) chegaram quase uma hora antes, para garantir a chamada para o voto no lugar do titular ausente.

Ainda será decidido se a decisão do Conselho resultará no arquivamento imediato ou se será submetida ao plenário.

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