Título: Juíza: Abin poderá acompanhar perícia da PF
Autor: Carvalho, Jailton de; Galhardo, Ricardo
Fonte: O Globo, 04/12/2008, O País, p. 8

Decisão derruba despacho anterior; envolvidos na Satiagraha usaram nome de Dantas para negociar propina a delegado.

BRASÍLIA e SÃO PAULO. A presidente do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, desembargadora Marli Ferreira, autorizou ontem que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) acompanhe a perícia da Polícia Federal nos computadores e documentos apreendidos na instituição. O material foi apreendido nas investigações sobre o vazamento, para a imprensa, da Operação Satiagraha, que apura supostos crimes financeiros do banqueiro Daniel Dantas e na qual ele foi condenado anteontem a dez anos de prisão por corrupção.

O despacho da juíza derruba a decisão do juiz Ali Mazloum, da 7ª Vara Criminal Federal de São Paulo, que não permitira que a Abin acompanhasse a perícia. Para a Advocacia Geral da União (AGU), que recorreu contra a decisão do juiz paulista, a presença da Abin é imprescindível porque, no material apreendido pela equipe do delegado Amaro Vieira, da Corregedoria da PF, há informações sigilosas relacionadas à segurança nacional e à vida de agentes do serviço de inteligência.

Chicaroni fez 109 ligações para Protógenes

A sentença do juiz da 6ª Vara Criminal Federal de São Paulo, Fausto De Sanctis, que condenou Dantas por corrupção ativa, relata que o cruzamento das chamadas telefônicas feitas no período mostra que os envolvidos usaram o nome de Dantas nas negociações da propina. Chicaroni fez 109 ligações para o delegado Protógenes Queiroz a partir do dia 28 de abril.

Só no dia 29 de abril, Chicaroni fez 42 ligações para o delegado. Ele foi acionado pelo grupo de Dantas para intermediar o contato com Protógenes, descobrir detalhes da investigação e, se possível, excluir dela os nomes de Dantas, seu filho e sua irmã Verônica. Protógenes indicou a Chicaroni o delegado Victor Hugo e todos os contatos foram monitorados pela PF com autorização da Justiça. Em alguns diálogos, os envolvidos na negociação falam o nome "Daniel". Em encontro no dia 18 de junho, Victor Hugo procura saber de Chicaroni o valor da propina. O intermediário fala que dispõe de US$500 mil e diz:

- Acima desse limite aí ele tem que falar com o Daniel.

Em almoço com Humberto Braz, braço direito de Dantas e condenado a sete anos em regime semi-aberto, Victor Hugo explica que não está achacando o banqueiro e que o grupo de Dantas é quem veio lhe procurar. Braz confirma duas vezes.

Até hoje, ninguém requereu à Justiça a devolução do dinheiro - o que reforçaria a suspeita de que ele tem origem escusa. Em depoimentos à PF e à Justiça, Chicaroni, condenado a sete anos de prisão, disse que R$800 mil teriam sido enviados pelo Opportunity e seriam usados no pagamento da propina. O restante (R$390 mil) pertenceria a Chicaroni. O dinheiro foi depositado na Caixa Econômica Federal. Quando a defesa esgotar as possibilidades de recurso, o montante será revertido para o Tesouro Nacional.

O advogado de Dantas, Nélio Machado, protocolou recurso contra a condenação na 6ª Vara Criminal Federal. O recurso deve seguir para o Tribunal Regional Federal da 3ª Região.