Título: Índia quer apoio para atacar Paquistão
Autor: Costa, Florência
Fonte: O Globo, 04/12/2008, O Mundo, p. 34

Condoleezza Rice recebe pedido para pressionar país vizinho ou permitir bombardeios de bases de radicais Florência Costa NOVA DÉLHI. O governo da Índia tentou convencer ontem os Estados Unidos a agir com firmeza contra o Paquistão, ou a conceder a luz verde para que o país realize ataques contra bases de grupos terroristas islâmicos em território paquistanês. O recado foi dado diretamente à secretária de Estado americana Condoleezza Rice, que chegou ontem à Índia. Condoleezza veio com a difícil tarefa de serenar os ânimos de Índia e Paquistão, que travam uma guerra verbal por causa da acusação dos indianos de que os terroristas responsáveis pelos ataques a Bombaim na semana passada saíram do Paquistão. Ela exortou o Paquistão a agir e cooperar com a Índia. A chefe da diplomacia dos EUA disse que o tipo de terrorismo cometido em Bombaim é semelhante ao realizado pela al-Qaeda. Condoleezza desembarcou em Nova Délhi no mesmo dia em que a polícia de Bombaim achou mais duas bombas na estação central de trem CST, atacada na última quarta-feira. ? Se é uma ação direta da al-Qaeda ou não, o fato é que esse foi o tipo de terrorismo que é praticado pela al-Qaeda ? comentou Condoleezza, que hoje visita a capital do Paquistão, Islamabad. O ministro do Exterior indiano, Pranab Mukherjee, disse a Condoleezza que os terroristas são do Paquistão, e lembrou que o povo de seu país está "revoltado e com muita raiva". ? Informei-a de que não há dúvida de que os ataques terroristas em Bombaim foram perpetrados por indivíduos que vieram do Paquistão, e que seus líderes também são do Paquistão ? contou Mukherjee. Condoleezza, que concedeu uma entrevista coletiva ao lado de Mukherjee, alertou o Paquistão de que deve colaborar na investigação dos atentados e, principalmente, no combate aos grupos terroristas que estão baseados em seu território. ? O Paquistão deve ir ao fundo dessa questão e fazer eles saberem que são inimigos do Paquistão como são da Índia ? disse ela. Condoleezza rebate argumento paquistanês O Paquistão rejeitou a exigência do governo indiano de capturar 20 pessoas consideradas terroristas, e extraditar algumas delas. A atitude contribuiu para azedar mais ainda as relações das duas potências nucleares. O presidente paquistanês, Asif Ali Zardari, em entrevista à rede CNN, disse que duvida até que o único terrorista capturado na Índia após o ataque seja de seu país, como informou a polícia da Índia. Apesar do estremecimento das relações entre os dois países, Zardari descartou a possibilidade de uma guerra, afirmando que "democracias não travam guerras". ? Se tivéssemos provas, poderíamos tentar levar essas pessoas à Justiça ? reagiu Zardari, cobrando da Índia a apresentação de evidências. Zardari negou a participação de seu país no ataque e disse que o terror foi cometido por "apátridas". Condoleezza respondeu a esse comentário de Zardari afirmando que "apátridas" ainda são "uma questão de sua (do Paquistão) responsabilidade, que de alguma forma está ligada a seu território": ? O fato é que apátridas agem dentro do seu Estado. Deve haver uma ação dura. O chanceler do Paquistão, Shah Qureshi, reagiu às declarações do ministro indiano de que a Índia não descarta a possibilidade de ataques militares a campos de treinamento do Lashkar-e-Toiba dentro do Paquistão: ? Esse tipo de declaração contribuiu para deixar a situação fora de controle. Segundo a edição eletrônica do jornal "The Times of India", os EUA teriam concordado em admitir ataques da Índia a bases do Lashkar, caso o Paquistão não aja. Segundo o jornal, o governo indiano pede aos EUA para usar aeronaves não-tripuladas para bombardear campos de grupos radicais islâmicos que atacam a Índia. O governo indiano subiu o tom com o Paquistão depois da reação da opinião pública indiana, que faz protestos diários contra os políticos e sua incapacidade de defender o país. A menos de um quilômetro do prédio do Ministério do Exterior onde Condoleezza ficou hospedada, indianos se manifestavam levando cartazes com mensagens como "Basta. Vamos à guerra" e "Há limite para a tolerância".