Título: PF indicia mulher e advogado de Paulinho
Autor: Galhardo, Ricardo; Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 05/12/2008, O País, p. 8

Elza Pereira e Ricardo Tosto são acusados de lavagem de dinheiro, no esquema de intermediação de empréstimos do BNDES.

SÃO PAULO e BRASÍLIA. Enquanto o Conselho de Ética da Câmara absolvia o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho, da acusação de quebra de decoro parlamentar, o delegado da Polícia Federal Rodrigo Levin fechava o cerco contra ele. A PF indiciou a mulher de Paulinho, Elza de Fátima Costa Pereira, e o sindicalista Wilson Carvalho de Oliveira, presidente de uma ONG ligada à Força Sindical, por lavagem de dinheiro. Segundo Levin, Paulinho recebeu pelo menos R$180 mil em propinas por intermediar empréstimos junto ao BNDES por meio de ONGs ligadas à Força. O relatório com o indiciamento de Elza já está na 2ª Vara Criminal Federal de São Paulo. O advogado Ricardo Tosto, integrante do PDT de São Paulo e ex-conselheiro do BNDES indicado pela Força Sindical, também foi indiciado por lavagem de dinheiro.

"As parcelas (da propina) destinadas a "Paulinho" foram depositadas em organizações não-governamentais ligadas a ele. Descobriu-se um esquema de lavagem de dinheiro no qual estas organizações recebem dinheiro ilícito como se fossem doações. A ONG Instituto de Desenvolvimento e Pesquisa Política, Social e Cultural do Trabalhador (presidida por Oliveira) recebeu depósitos de R$82.162, R$82 mil e R$18.397,50. Os valores são exatamente os mesmos previstos para a entrega a "Paulinho"", diz o relatório.

Segundo a PF, o dinheiro é fruto de propinas pagas ao grupo do deputado para intermediar a liberação de financiamentos junto ao BNDES. De acordo com Levin, a ONG Meu Guri, comandada por Elza, também foi usada para escoar propinas recebidas pela intermediação dos empréstimos. O principal indício é um depósito de R$37,5 mil feito pelo lobista João Pedro de Moura, que se apresentava como assessor de Paulinho e é considerado um dos chefes da quadrilha.

Além disso, as investigações identificaram depósitos seqüenciais no valor de R$9 mil. A PF desconfia que este seja o expediente usado para dificultar a identificação - a lei exige que os responsáveis pelos depósitos sejam identificados apenas em valores a partir de R$10 mil.

Segundo a PF, Ricardo Tosto usou R$82 mil recebidos pela Progus, empresa de Marcos Vieira Mantovani, outro suposto integrante da quadrilha, para pagar o aluguel de seu escritório localizado no bairro de classe média alta do Itaim Bibi. Tosto já responde a processo por formação de quadrilha e desvio de financiamentos do BNDES. A assessoria do advogado diz que os R$82 mil são honorários advocatícios por serviços prestados a Mantovani, e que o escritório tem 18 sócios e, logo, Tosto não usaria o próprio dinheiro para beneficiar os outros 17 sócios.

O advogado Antonio Rosela, ligado à Força, questionou as acusações da PF contra Elza:

- Ele não tem nenhum material para provar o que está dizendo e não teve sequer o trabalho de averiguar a contabilidade das ONGs que está acusando.

Contrariando a expectativa dos aliados de Paulinho, o processo contra ele por quebra de decoro parlamentar deverá ser submetido ao plenário da Câmara. Mesmo que o relator indicado para fazer a redação do voto vencido, deputado José Carlos Araújo (PR-BA), opte por pedir o arquivamento no Conselho de Ética, o autor da representação, o PSOL, irá colher as 52 assinaturas necessárias para levar o caso ao plenário.

O presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), disse que a Casa não pode ser responsabilizada pela decisão do Conselho. Indagado sobre o desgaste na imagem da Câmara pelo fato de Paulinho ser absolvido no mesmo dia em que sua mulher, Elza, foi indiciada pela PF, Chinaglia disse que ele e os integrantes da Mesa cumpriram o papel de enviar ao Conselho a representação contra o deputado.