Título: Paes arrecadou e gastou o dobro de Gabeira
Autor: Borges, Waleska; Suwwan, Leila
Fonte: O Globo, 05/12/2008, O País, p. 9

Campanhas para prefeito e vereador no país somaram R$2,14 bi; custo médio do voto em capitais foi de R$11,50.

RIO e BRASÍLIA. Com um gasto geral de R$2,14 bilhões nas campanhas eleitorais para vereadores e prefeitos deste ano, o Brasil viu um aumento desproporcional no custo da conquista das capitais, onde os vitoriosos desembolsaram R$112,7 milhões. No Rio de Janeiro, a corrida custou R$11,4 milhões a Eduardo Paes (PMDB). O atual prefeito, Cesar Maia (DEM), gastara cerca de um terço, R$3,5 milhões, valor já corrigido pela inflação dos últimos quatro anos. E, considerado o resultado obtido por cada um, cada voto do peemedebista custou 4 vezes mais. Derrotado por pouca diferença, Fernando Gabeira (PV) gastou metade, R$5,2 milhões.

Paes e Gabeira tiveram apoio do setor imobiliário, mas o prefeito eleto recebeu valores mais altos. A Carioca Christiani Engenharia A.A, do consórcio das empresas responsáveis pela construção da Cidade da Música, por exemplo, doou R$300 mil para Paes e R$150 mil para Gabeira. Já a Construtora OAS Ltda, que participou da construção do Estádio João Havelange, conhecido como Engenhão, doou R$350 mil para o agora eleito e R$250 mil para o verde.

Maior gasto de prefeito eleito foi com pessoal

Segundo as contas de Paes, ele gastou exatamente o valor arrecadado: R$11.408.324,00. Sua expectativa era chegar a R$12 milhões. A maior despesa foi com pessoal, R$3,2 milhões, seguida dos gastos com publicidade com material impresso, de R$1,7 milhão, e ainda placas, estandartes e faixas, com R$1,6 milhão. Com pesquisas e testes, mais R$1 milhão.

Gabeira informou que não teve despesas com pessoal, mas declarou R$1,3 milhão com serviços prestados por terceiros. O maior gasto foi de R$2,9 milhões com a produção de programas de rádio, TV ou vídeo. O custo de publicidade com material impresso foi de R$252 mil, e com placas, faixas e estandartes, R$58,6 mil. Gabeira não gastou com pesquisas eleitorais.

A maior contribuição isolada para Paes foi de R$500 mil, do empresário Eike Batista. Paes recebeu R$110 mil de Maria Tereza Uchoa de Medeiros, segundo ele, uma amiga. Eike também doou R$100 mil para Gabeira. O verde recebeu do cineasta Walter Salles sua maior contribuição isolada, R$230 mil. Gabeira recebeu ainda R$39 mil do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga.

Gabeira esperava arrecadar R$7 milhões e teve receita de R$5.157.564. Ficou com resultado negativo de R$50 mil. O advogado Eurico Toledo, da campanha, informou que as contas não fecharam no vermelho. Segundo ele, esse valor é uma doação do partido não reconhecida pelo sistema de prestação de contas do TSE.

As prestações de ambos tiveram questionamentos feitos pelo TRE. Paes terá que esclarecer se parte do dinheiro arrecadado é verba do fundo partidário. Os dois já apresentaram esclarecimentos.

Segundo os dados das prestações de contas recebidos até o momento pelo TSE, o voto mais caro nas capitais foi o da campanha do petista Raul Filho em Palmas (TO) - R$42,65. O valor se aproxima do gasto de R$47 por voto na campanha recordista de Luiz Marinho (PT), em São Bernardo do Campo (SP).

A média para as capitais foi de R$11,5 - o cálculo desconsidera os eleitos de Recife (PE) e Boa Vista (RR), cujas contas não chegaram ao TSE. No geral do país, as despesas superam em quase três vezes o que especialistas consideram que seria gasto nas campanhas municipais se o financiamento fosse público, cerca de R$750 milhões.

Entre os principais partidos, o PT foi o que mais gastou para conquistar capitais. Os R$10,2 milhões arrecadados pelos petistas vitoriosos representam R$16,26 por voto conquistado em 5 das 6 capitais onde o partido ganhou - Vitória (ES), Rio Branco (AC), Fortaleza (CE), Palmas (TO) e Porto Velho (RR). Os tucanos, em comparação, gastaram R$11,43 por voto em Curitiba (PR), Teresina (PI), Cuiabá (MT) e São Luís (MA). E o PMDB, grande vitorioso de 2008, teve um custo de R$7,82 por voto em 6 capitais.

Em São Paulo, maior colégio eleitoral do país e única prefeitura ganha pelo DEM, o voto custou R$7,85 a Gilberto Kassab. À derrotada Marta Suplicy (PT), não faltou arrecadação. Com R$8 milhões a menos que o adversário, acabou gastando R$8,57 por voto conquistado.

Em Belo Horizonte, a vitória de Márcio Lacerda (PSB) contou com R$17,5 milhões de doadores e investiu R$22,87 por voto. O adversário, Leonardo Quintão (PMDB) gastou R$5,21 por voto, num total de R$2,7 milhões. Em comparação com a campanha de Fernando Pimentel (PT) em 2004, Lacerda teve um caixa de campanha três vezes maior.