Título: Dólar acima de R$2,50
Autor: Rangel, Juliana; Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 05/12/2008, Economia, p. 29

Pela primeira vez na crise, moeda ultrapassa barreira e fecha a R$2,536. De setembro até agora, já acumula alta de 42%.

O dólar comercial teve ontem o sexto dia seguido de valorização e atingiu R$2,536, a maior cotação desde abril de 2005, ou seja, também a mais alta já registrada na crise financeira que abate a economia mundial. De 15 de setembro - quando foi anunciada a quebra do banco americano Lehman Brothers - até ontem, a moeda acumula avanço de 42,4%. Segundo analistas, a alta de 2,46% de ontem foi puxada pelo aumento na demanda de empresas para remeter dólares a suas matrizes no exterior e por especuladores no mercado futuro de câmbio. O Banco Central (BC) não fez intervenções no mercado à vista, mas, diante da pressão, fez um leilão de US$314,6 milhões em contratos de swap cambial (operação em que, na prática, a instituição vende dólares no mercado futuro). Este tipo de atuação vinha acontecendo diariamente, mas estava suspenso desde o dia 1º.

Para analistas, está havendo uma queda-de-braço entre o mercado financeiro e o BC. Segundo eles, investidores compram os contratos de swap porque sabem que, no vencimento, o BC terá que rolar a dívida, como fez em dezembro. Para postergar os vencimentos, a autoridade monetária é obrigada a pagar taxas altas aos especuladores. O gerente de câmbio da Corretora Liquidez, Francisco Carvalho, calcula que os contratos que vencerão em janeiro e que terão que ser rolados pelo BC somam cerca de US$10 bilhões.

- É aí que eles registram seus ganhos - explicou Carvalho.

Para Carvalho, o baixo volume negociado no mercado à vista também está facilitando as fortes oscilações nas cotações. Ontem, o mercado movimentou US$1,5 bilhão. A média diária em novembro era de US$3 bilhões. Para o analista, a autoridade monetária está agindo corretamente, apesar de admitir que os leilões de swap podem alimentar a especulação:

- É uma forma de alimentar a especulação, mas ele tem que fazer isso até o mercado se acalmar e os leilões não precisarem ser rolados.

Para o gerente de câmbio da Souza Barros, Alberto Dwek, outros fatores influenciam o câmbio, como remessas de empresas para o exterior. Ele também cita o ambiente econômico incerto:

- Os fundamentos econômicos pioraram, mas o que o dólar subiu já seria suficiente para capturar isso. Essa perda de mais de 40% no valor do real já é mais que suficiente. O que estamos vendo agora é uma reação exagerada.

O presidente do BC, Henrique Meirelles, disse ontem que a autoridade monetária já ofertou US$49,5 bilhões para dar liquidez ao mercado. Deste montante, US$31,1 bilhões foram em swaps. Apenas US$6,7 bilhões saíram efetivamente das reservas internacionais, com os leilões de dólares à vista. O BC fez ainda leilões de dólares com compromisso de recompra, no futuro, somando US$6,4 bilhões no fim de novembro. Os leilões de moeda estrangeira com garantia em global bonds (títulos públicos brasileiros emitidos em moeda estrangeira) somaram US$1,5 bilhão. Já os leilões feitos com garantias em Adiantamento sobre Contrato de Câmbio (ACC) e Adiantamento de Cambiais Entregues (ACE) representam outros US$3,8 bilhões.

Ao comentar os números, Meirelles afirmou que o país tem condições de enfrentar a turbulência, apesar de não estar totalmente imune.

- No passado, quando os Estados Unidos pegavam gripe, o Brasil pegava uma pneumonia, ou até uma tuberculose. Hoje, os EUA têm uma pneumonia, enquanto nós temos uma gripe.

Dólar sobe frente a outras moedas

O dólar também vem ganhando valor frente a outras moedas no mundo e, segundo o estrategista-sênior Bank of New York Mellon Michael Woolfolk, tende a acelerar seus ganhos, inclusive em relação ao euro, no primeiro semestre de 2009 com a busca de investidores por refúgio.

- A maioria das moedas vai cair em relação ao dólar nos próximos meses, à exceção do iene - disse.

Nos últimos três meses, o dólar se valorizou frente a 16 moedas, sem considerar o iene. Em relação a uma cesta de moedas que inclui o euro, o iene, a libra, o dólar canadense, a coroa sueca e o franco suíço, o dólar sobe 9,7% desde o início de setembro.

oglobo.com.br/economia