Título: Expansão para cima
Autor: Brandão, Tulio; Marqueiro, Paulo
Fonte: O Globo, 06/12/2008, Rio, p. 20

Levantamento aéreo comprova que casas de favelas da Zona Sul estão virando prédios.

Aocupação das favelas do Rio obedeceu à lógica do cobertor curto na administração de Cesar Maia. Em algumas comunidades da Zona Sul, respaldado pela ecobarreira e por outros instrumentos, o prefeito chegou a falar em contenção do crescimento horizontal. Como não há obstáculo que impeça construções para o alto, a cidade viu surgir na gestão de Cesar a explosão do crescimento vertical das favelas. Num sobrevôo realizado esta semana com o diretor da Associação de Moradores do Alto Gávea (Amalga), Luiz Fernando Penna, repórteres do GLOBO identificaram a consolidação da verticalização nas comunidades do Parque da Cidade, da Rocinha e da Chácara do Céu, todas no entorno de um dos mais belos cenário do Rio, o Morro Dois Irmãos.

As imagens mostram que nas três favelas praticamente não há mais casas de um pavimento. Uma das construções na Parque da Cidade ¿ originalmente um prédio de quatro andares ¿ foi ampliada e agora tem sete pisos. Os três últimos andares ainda estão sem reboco, o que indica que a obra foi feita recentemente.

Entrada de material de construção será coibida

Para Luiz Fernando Penna, os ferros que sobram nas lajes ainda não construídas são um sinal do desejo de expansão dos moradores:

¿ Notei lajes incompletas e em construção, sempre apontando para o crescimento vertical. Um exemplo é a Parque da Cidade, que já tem um dos metros quadrados mais caros entre as comunidades da Zona Sul.

Sérgio Dias, que assumirá a pasta da Secretaria municipal de Urbanismo na gestão do prefeito eleito Eduardo Paes, reconhece o problema da verticalização. Ele promete fiscalizar de uma forma mais eficaz a entrada de materiais de construção nas favelas da cidade.

¿ Houve uma política de contenção das favelas que gerou o crescimento vertical. Depois das ecobarreiras e de outros mecanismos, agora o desafio é o da verticalização, que mantém a elevação do adensamento e ainda pode gerar problemas para a Defesa Civil. Vamos tornar mais eficaz o controle do acesso de materiais de construção nas comunidades.

Ele pretende ainda trabalhar na regularização fundiária das favelas e fazer sobrevôos semanais para monitorar o seu crescimento.

A prefeitura reconheceu recentemente que, das 750 favelas da cidade, apenas 61 contam com legislação que limita o gabarito e, por isso, têm mais fiscalização. Entre elas, está a Rocinha, onde em 2005 foi denunciada a existência de um prédio de 11 andares, apelidado de ¿Empire State da Rocinha¿. Nas demais, não há controle.

Procurados pelo GLOBO, representantes das associações de moradores da Rocinha e do Parque da Cidade não foram encontrados.

A presidente da Câmara Comunitária e da Associação Comercial do Leblon, Evelyn Rosenzweig, que idealizou o monitoramento aéreo feito por associações de moradores, lembra os riscos da verticalização:

¿ Os prédios são estruturas complexas e, por estarem em comunidades de baixa renda, são normalmente construções precárias. Se já há risco numa casa de um andar, imagine num prédio! A regularização beneficia o morador.

O professor do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da UFRJ Luiz Cesar Ribeiro resume a história da verticalização:

¿ De início, em áreas adensadas e bem localizadas, moradores faziam um segundo andar. Na década de 80, a verticalização começa a se intensificar. Hoje, há um mercado imobiliário completamente desregulado. Um negócio, com prédios para vender e alugar. São investidores que se aproveitam da irregularidade e da falta de fiscalização para fazer especulação imobiliária. A prefeitura tem sido totalmente omissa.

Na coluna Há 50 Anos, no Segundo Caderno, o surgimento da Favela de Manguinhos

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