Título: BC segura dólar com US$ 2,3 bi
Autor: Rangel, Juliana; Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 06/12/2008, Economia, p. 41

Após cinco leilões no mercado de câmbio, moeda cai 2,25% e fecha em R$2,479.

OBanco Central (BC) entrou pesado ontem no mercado de câmbio e injetou mais de US$ 2,3 bilhões para segurar a forte especulação que chegou a puxar a moeda para a cotação de R$2,621 (alta de 3,35%) durante o dia. A autoridade vendeu cerca de US$1 bilhão em moeda, em três leilões no mercado à vista, o maior volume desde que o BC voltou a usar dólares de suas reservas, em 8 de outubro. Como a cotação não arrefeceu, o BC fez ainda dois leilões de contratos de swap cambial (em que, na prática, vende dólares no mercado futuro) com vencimento em fevereiro, no total de US$1,326 bilhão. Com a artilharia do BC, o dólar acabou fechando em queda de 2,25%, a R$ 2,479. Na semana, acumulou valorização de 7,08%.

Segundo o gerente de câmbio da Souza Barros, Alberto Dwek, a ação dos especuladores ontem foi mais nítida:

- A cotação nos contratos negociados no mercado futuro (na Bolsa de Mercadorias & Futuros, a BM&F) havia chegado a R$2,637. Depois que o BC fez o leilão de swaps, em 20 minutos, o preço baixou em US$0,15. Se alguém disser que houve um fluxo de saída de recursos que levou à alta, e que, minutos depois, houve um fluxo de entrada que provocou a queda, é motivo para dar risadas.

De acordo com especialistas, o mercado passou a prever a ação do BC e a esperar os leilões de swaps diariamente. Essas operações são feitas com objetivo de dar liquidez a empresas que, antes do agravamento da crise, apostavam na queda do dólar e precisam quitar seus compromissos no mercado futuro. Mas, dizem analistas, investidores da BM&F estão comprando os swaps com a certeza de que, no vencimento, o BC vai preferir rolar a dívida a quitá-la, pagando taxas elevadas. Isso porque, se não postergar os vencimentos, terá que comprar dólares no mercado para honrar os compromissos, o que pressionaria ainda mais a cotação.

Segundo o gerente de câmbio da corretora Liquidez, Francisco Carvalho, a diferença nas atuações de ontem - além do maior poder de fogo - foi que o BC não avisou ao mercado com antecedência, como costuma fazer:

- Para conter a especulação, isso é bom porque o mercado não fica com a certeza de que o BC vai atuar todos os dias.

Depois da mão forte do BC, o mercado de câmbio voltou a ter liquidez. Ontem, o volume de negociações ficou em torno de US$7 bilhões, contra US$1,5 bilhão no dia anterior.

- Depois das atuações, o mercado negociou com mais força para trazer a Ptax (cotação média do dia, calculada pelo BC e usada como referência nos contratos cambiais) mais para perto do preço da moeda - disse Carvalho.

Apesar de ter aumentado as intervenções no câmbio nos últimos dias, o BC não planeja, por enquanto, usar força total para segurar a cotação da moeda. A autoridade monetária reconhece que existe um forte conteúdo especulativo na alta, mas afirma também haver um componente sazonal de maior procura de dólar por parte de empresas que estão ou remetendo lucros ao exterior ou são exportadoras e estão fechando contratos. Ou seja: bater na moeda e derrubá-la poderia acarretar prejuízos à economia real.

A liquidez restrita no mercado de câmbio é um fator negativo, que amplia as chances de especulação, reconhecem fontes do BC. Com menos dinheiro disponível no mercado, os especuladores podem atuar com mais facilidade e pressionar ainda mais as cotações.

Para José Cezar Castanhar, economista da Ebape, da Fundação Getulio Vargas, e Natan Blanche, da Tendências, o BC não está agindo corretamente no câmbio. Segundo eles, o governo erra ao não usar as reservas internacionais e ao não criar instrumentos contra a especulação. Castanhar lembra que a alta em torno de 40% desde setembro poderia ser evitada se o governo tivesse vendido mais dólares no mercado à vista. Blanche ressalta que o BC não está conseguindo dar segurança ao mercado:

- O governo não quer abrir mão das reservas, pois grande parte está aplicada em títulos do Tesouro americano, que estão se valorizando.

Bovespa encerra em alta de 0,63%

Já a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), durante o dia, chegou a cair 3,17%, seguindo as bolsas americanas, após o anúncio de um desemprego histórico nos EUA. Nos últimos 15 minutos do pregão, porém, investidores passaram a considerar que a inflação mais baixa que a esperada em novembro dará mais espaço para o BC cortar os juros. Ontem, o IBGE divulgou que o IPCA, índice oficial de preços, subiu 0,36% no mês passado. A expectativa era de alta de até 0,55%. A Bovespa acabou subindo 0,63%, para 35.347 pontos. Após registrarem quedas durante todo o dia, as bolsas americanas também subiram no fim da sessão, com uma corrida por ações baratas. O Dow Jones subiu 3,09%; o Nasdaq avançou 4,41%; e o S&P 500 ganhou 3,65%.

(*) Com Bruno Rosa e agências internacionais