Título: Brasil vai defender Fundo Global de Desenvolvimento na reunião do G-20
Autor: Bôas, Bruno Villas
Fonte: O Globo, 06/12/2008, Economia, p. 42
O Nobel Stiglitz diz que a confiança só retornará com nova regulação.
O Brasil vai propor na próxima reunião do G-20, que reúne ministros da Fazenda e presidentes de bancos centrais (BCs), a criação de um Fundo Global de Desenvolvimento para injetar liquidez no mercado, sobretudo nos países em desenvolvimento. A proposta foi antecipada pelo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, que participou ontem, no Rio, do último dia da conferência da Associação Mundial das Agências de Promoção de Investimento (Waipa, sigla em inglês). A reunião do G-20 deve ocorrer antes de abril do ano que vem.
- O objetivo desse fundo é mitigar a escassez de crédito provocada pela crise financeira. A maioria dos países em desenvolvimento, com exceção de Brasil e China, está tendo dificuldades para amortecer o impacto provocado pela queda dos preços das commodities - comentou Coutinho, antecipando que esse fundo poderia contar com recursos de US$400 bilhões a US$500 bilhões, ou 10% das reservas cambiais dos países com grande acúmulo de reservas.
Perguntado sobre a dificuldade de captar esse volume de recursos, Coutinho foi taxativo ao responder:
- Se não formos criativos numa hora dessas, corremos o risco de deixar a recessão mundial atingir proporções ainda maiores. O mundo está precisando de um super Fundo de Amparo ao Trabalhador, o FAT, que é uma das principais fontes de recursos do BNDES.
Maior regulação financeira não é ainda um consenso
Coutinho, que dividiu as atenções na conferência com os prêmios Nobel de Economia Joseph Stiglitz (2001) e Edmund Phelps (2006), além do ex-presidente da Bolsa de Valores de Nova York William Donaldson, deu a receita para enfrentar a crise de crédito no mundo e aproveitou para defender o estabelecimento de "mecanismos severos de regulação anticíclica".
- Isso deveria estar escrito no mandato institucional dos bancos centrais. Não pode ser apenas matéria discricionária do presidente do Federal Reserve americano. Essa obrigação deveria constar dos estatutos e leis que regem a regulação financeira no país - defendeu.
Phelps não concordou 100% com idéia, por considerar que os BCs não deveriam ser "responsáveis por controlar situações como a atual". Stiglitz admite que, para restaurar a confiança no sistema financeiro, é preciso mudar a estrutura regulatória, "o que não tem sido feito".
Donaldson concorda que é necessário rever a regulação, até porque a atual data de 1929, o que significa que ela é insuficiente para regular ativos como os derivativos cambiais, mas acha difícil que a idéia saia do papel.