Título: Inflação pelo IPCA cai para 0,36% com menor pressão de alimentos e vestuário
Autor: Bôas, Bruno Villas
Fonte: O Globo, 06/12/2008, Economia, p. 42
Crise derruba preço de "commodities" agrícolas e compensa alta do dólar.
A queda de preços de produtos agrícolas no mercado internacional e a redução da atividade econômica - conseqüências da crise global - desaceleraram a inflação oficial em novembro, surpreendendo o mercado. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 0,36% no mês, abaixo dos 0,45% de outubro e muito inferior à alta de 0,5% esperada por analistas, que apostavam em uma pressão cambial que não ocorreu, informou ontem o IBGE. O temor da inflação começa a ceder espaço agora para a preocupação sobre a retração da economia.
Com o resultado de novembro, o IPCA acumula alta de 5,61% nos 11 meses deste ano, acima dos 3,69% de 2007. Nos 12 meses, a inflação oficial chegou a 6,39%, um pouco abaixo dos 6,41% do período anterior e inferior ao teto da meta fixada pelo governo de 6,5%.
Segundo a coordenadora de Índices de Preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos, o recuo de preços foi "generalizado". Os produtos não-alimentícios desaceleraram de 0,38% em outubro para 0,29% em novembro. O resultado foi puxado pelo setor de vestuário, cuja inflação recuou de 1,27% em outubro para 0,71% em novembro.
- O recuo pode estar vinculado ao cenário de crise. Com crédito mais restrito, os preços à vista com desconto passam a ser mais convidativos. O comércio também lança promoções - afirmou.
Alimentos cedem, mas já avançaram 10,7% em 2008
Outro destaque foi o preço de automóveis usados, que teve a queda acentuada de -0,58% para -2,61%, com mais promoções em concessionárias. Também recuaram itens como habitação (0,43%), taxa de água e esgoto (0%) e energia elétrica (0,16%).
Já no grupo dos alimentos, a inflação caiu de 0,69% em outubro para 0,61% no mês passado, com a queda em produtos importantes nas despesas das famílias - como feijão carioca (-14,6%), óleo de soja (- 1,68%) e cebola (-11,58%).
- Em outros choques cambiais, o impacto sobre preços ocorreu de forma intensa e rápida sobre os alimentos. Desta vez, temos a queda do preço das commodities compensando a alta - disse.
Apesar da menor pressão, os alimentos acumularam avanço de 10,71% no ano até novembro, contribuindo com 41% da inflação registrada no ano até novembro, de 5,61%.
Marcel Pereira, economista-chefe RC Consultores, chamou atenção para a subida menor de preços no item refeição em restaurantes, de 0,77% em outubro para 0,21% neste mês. Para ele, o recuo tem relação com o temor de demissões e férias coletivas, o que leva as pessoas a sair menos para comer.
Resultado não altera apostas para reunião do Copom
Para o economista Elson Teles, da Concórdia Corretora, os alimentos foram a grande surpresa do IPCA, com alta menor do que a esperada. A corretora prevê inflação de 0,5% em dezembro e de 6,15% no ano, abaixo do teto da meta. Ele aposta em um queda de 0,2% no Produto Interno Bruto (PIB) no último trimestre deste ano.
- O bicho inflação não é tão feio quanto pessoas pensavam. A desaceleração da atividade econômica, sim, é muito forte - disse ele.
Os números da inflação ampliaram o debate sobre a redução da taxa de juros (Selic) pelo Banco Central (BC). Analistas ainda acreditam, porém, em estabilidade em 13,75% ao ano na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), na semana que vem.
- O BC tende a aguardar um cenário de maior estabilidade do câmbio - disse Roberto Padovani, do banco WestLB.
Fabio Romão, da LCA Consultores, também aposta em PIB menor, e prevê corte de 0,25 ponto percentual nos juros já no primeiro semestre de 2009.