Título: Pacote pode sair na semana que vem
Autor: Galhardo, Ricardo
Fonte: O Globo, 06/12/2008, Economia, p. 43

Mantega promete ações contra demissões. Empresário quer quarentena.

SÃO PAULO. Em reunião com líderes empresariais na sede da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) ontem, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, prometeu para a próxima semana o anúncio de novas medidas para evitar que empresas de setores mais atingidos pela crise internacional recorram às demissões, para se ajustar à queda na demanda de seus produtos. De acordo com o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, as medidas do governo deverão beneficiar setores "em maior dificuldade", como agricultura, energia, indústria automobilística, de bens de capital e construção civil.

Skaf disse ter sugerido também ao ministro a adoção de uma espécie de "quarentena" para a importação de produtos manufaturados de setores intensivos em mão-de-obra, como calçados e confecções.

- Apesar do dólar mais alto, há uma grande preocupação com a invasão de produtos chineses que, com a crise, deixarão de ir para os mercados americano e europeu - disse.

Também estaria nos planos do governo adotar novas ações na área fiscal para aliviar custos do setor produtivo. Skaf, que classificou o atual momento da economia como uma "situação de guerra", disse que Mantega evitou dar detalhes sobre o pacote de medidas.

O vice-presidente da República, José Alencar, que também participou da reunião, disse que a recomendação do governo é que as empresas façam um esforço grande antes de demitir funcionários.

- É hora do empresariado mostrar sensibilidade, ajustando-se através de preços, e não com corte de emprego - disse Alencar.

Miguel Jorge: dólar a R$2,20 é ideal

Em outro evento, também em São Paulo, o ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, descartou a possibilidade de a desaceleração brusca das atividades em alguns setores, como o automobilístico, levar a demissões em massa.

- As montadoras não vão iniciar um movimento de demissões - assegurou Jorge. - Dar férias coletivas no fim do ano é uma forma tradicional de ajustar a produção à demanda. Ninguém quer demitir, isso é medida final.

Segundo o ministro, o setor automobilístico vinha crescendo a uma taxa de 25% e, para isso, além de vários turnos, produzia também nos fins de semana e feriados, condições que classificou como "insustentáveis". O ministro disse que o setor agora espera crescer a uma taxa próxima de 10% em 2009.

Jorge confirmou que o setor da construção civil vem sendo acompanhado com especial atenção pelo governo.

- Pelos dados que temos, não enxergamos crise à vista na construção. Tão logo seja identificado algum problema, o governo agirá para que ele seja o menor possível - disse.

Jorge ainda falou sobre a disparada do dólar. Segundo ele, R$2,20 seria uma cotação ideal para o câmbio, que ajudaria as exportações sem sobrevalorizar demais a moeda brasileira e ajudaria a balança comercial. Ele admite que as importações devem cair graças ao câmbio, mas a retração das exportações a mercados em recessão tendem a equilibrar os números da balança.

- (A balança) será positiva no ano que vem - disse.