Título: Barril cai, mas Petrobras quer pré-sal
Autor: Segalla, Vinicius
Fonte: O Globo, 06/12/2008, Economia, p. 46

Cotação do petróleo recua a US$40,81, e Gabrielli afirma que "preço mínimo não interessa".

SÃO PAULO e NOVA YORK. O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, disse ontem que, independentemente do valor a que chegar a cotação do barril de petróleo, a produção na camada pré-sal será altamente rentável. Falando a empresários da indústria química, em São Paulo, Gabrielli foi enfático ao assegurar a viabilidade da exploração nas áreas do pré-sal:

- Vejo os bancos e a imprensa preocupados com a cotação do petróleo. Quero esclarecer que os preços não são um limite para a produção do pré-sal. O preço mínimo não nos interessa.

A cotação internacional do petróleo já caiu 72% desde 11 de julho, quando atingiu o recorde de US$147,27. Ontem voltou a cair, refletindo a alta do desemprego nos EUA e a crise global. Em Nova York, o barril do tipo leve americano despencou 6,55%, para US$40,81, o menor valor desde 10 de dezembro de 2004. Na semana, a queda acumulada foi de 25%. Já o barril do tipo Brent, negociado em Londres, recuou 6%, a US$39,74.

Exploração ainda vai enfrentar dificuldades

Mas Gabrielli enumerou uma série de dificuldades a serem enfrentadas na exploração do pré-sal, que chamou de desafios. E ressaltou que os esforços da Petrobras estão concentrados em resolver questões técnicas e logísticas. Ele citou, por exemplo, a necessidade de mudar a forma como se extrai o petróleo atualmente - por meio de sistemas flutuantes que descarregam em navios.

- Cada um desses sistemas com plataformas custa de US$6 bilhões a US$8 bilhões. Pelo volume que estamos calculando em Santos, precisaríamos de 500 desses. Então teremos que criar novas soluções - explicou o presidente da Petrobras.

Outro desafio, disse, é a distância dos campos de óleo e gás da Bacia de Santos do continente, de 350 quilômetros.

- Em Campos, são 150 quilômetros, e transportamos de helicóptero 40 mil pessoas por mês. Teremos de encontrar outra solução em Santos, pois nossos helicópteros não têm essa autonomia, nem seria economicamente favorável.

Também será preciso, explicou, inovar no transporte do gás, abundante no pré-sal. A forma de construir gasodutos hoje não é aplicável à topografia oceânica da Bacia de Santos. Mas Gabrielli garantiu que no ano que vem a empresa começa a extração em caráter de teste. E até 2011, assegurou, "a Bacia de Santos estará efetivamente produzindo".

- Com isso, vamos aumentar a demanda por equipamentos da indústria internacional, seremos price makers de mercado e pressionaremos a capacidade de fornecimento mundial - disse Gabrielli, reafirmando que a empresa manterá os investimentos já programados, como a contratação de 55 sondas, 28 das quais seriam feitas no Brasil.

Estatal fará captação interna por algum tempo

Cada sonda, disse, custa entre US$700 milhões e US$1 bilhão. Por isso, o presidente da Petrobras afirmou que a indústria naval brasileira precisa se preparar para fazer essas entregas até 2013.

Gabrielli também falou do empréstimo da Caixa à Petrobras, de R$2 bilhões, segundo ele um "valor ridículo" frente ao tamanho da empresa:

- É natural que a empresa venha buscar crédito no país diante da crise internacional. A intenção sempre é de captar recursos fora do país, mas provavelmente, pelo menos durante um certo período, a captação interna deverá ser maior.

A Agência Internacional de Energia (AIE) reduziu a projeção de crescimento da demanda global de petróleo de 1,6% para 1,2%, ou 94,1 milhões de barris por dia, entre 2008 e 2013.

(*) Com agências internacionais