Título: Menor apetite por crédito
Autor: Nunes, Vicente
Fonte: Correio Braziliense, 18/03/2009, Economia, p. 11

Pessoas e empresas reduzem em 10% a demanda por empréstimos em fevereiro. Retração é um alerta

O medo de que a piora na economia brasileira provoque uma onda de desemprego está fazendo com que os brasileiros fiquem reticentes em pegar dinheiro emprestado. Uma pesquisa divulgada ontem pela Serasa Experian mostra que a demanda por crédito pela pessoa física caiu 10,5% em fevereiro ante janeiro. Entre as empresas, a baixa foi de 10,8%. Em relação a fevereiro do ano passado, a procura por empréstimo pela pessoa física cedeu 4,2% e para as empresas recuou 4,4%

Desde maio de 2008, as pessoas físicas estão diminuindo o apetite por crédito que, em fevereiro, atingiu o menor nível da série histórica. Para pessoas jurídicas, a redução começou a ser verificada apenas em outubro e agora chegou ao patamar mais baixo desde dezembro. Esses números, acompanhados desde janeiro de 2008 pela Serasa Experian, foram divulgados ontem pela primeira vez. Na avaliação do presidente da Serasa Experian na América Latina, Francisco Valim, a retração é um alerta, uma vez que o crédito é uma das alavancas do crescimento. Embora a Serasa não tenha medido a oferta de crédito, Valim destacou que claramente existe um problema de demanda, agravado pelo aumento da inadimplência.

Segundo a pesquisa, a menor procura por empréstimo foi verificada em todas as classes de renda, com destaque para quem ganha até R$ 500. Em contrapartida, o menor recuo ¿ de 7,9% de janeiro para fevereiro ¿ ocorreu entre pessoas com rendimento superior a R$ 10 mil. ¿As pessoas que ganham até R$ 500 por mês foram as que mais se afastaram do crédito. Em fevereiro deste ano, a procura caiu 12,2% nesta classe de renda em relação a janeiro de 2009. Nas demais classes, a queda diminui à medida que aumenta a renda do brasileiro, sendo que as pessoas com rendimento mensal superior a R$ 10 mil foram a que menos se retraíram¿, destacou a Serasa. Dados da pesquisa apontam ainda que o maior tombo na busca por crédito foi verificada na região Sudeste, com baixa de 12,4% em relação a janeiro.

No caso das empresas, a redução de demanda por crédito ocorreu em todas as regiões. Somente no Norte, o recuo foi de 15,3% em relação a janeiro. As micro e pequenas empresas foram as que mais se afastaram do crédito devido à crise econômica mundial ¿ com baixa de 11,4% ante janeiro. Nas grandes companhias, o tombo foi de 0,4% ante janeiro.

PIB em queda livre A menor demanda por crédito está diretamente ligada à perspectiva de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) mais baixo neste ano. Ontem, o Comitê de Acompanhamento Macroeconômico da Associação Nacional das Instituições do Mercado Financeiro (Andima) divulgou as primeiras projeções do ano para a economia brasileira em 2009 e 2010. A estimativa é de que a expansão do PIB seja de apenas 0,4% em 2009 e de 3,3% em 2010. A retomada da economia deverá acontecer a partir do terceiro trimestre.

Segundo a superintendente técnica da Andima, Valéria Areas Coelho, o baixo crescimento vai diminuir as pressões inflacionárias e possibilitar a continuidade do corte da taxa básica de juros (Selic), que atualmente é de 11,25%. Para Andima, a Selic média em dezembro deve ser de 9,71%, o que seria o menor nível de juros nominais desde a adoção do sistema de metas de inflação em 1999. Em relação ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que baliza as metas do governo, a associação trabalha com uma média de 4,44% para dezembro de 2009 e 2010.

-------------------------------------------------------------------------------- Calote aumenta no comércio de Brasília

Da Redação

A inadimplência no comércio do Distrito Federal registrou uma leve alta, passando de 4,8% em janeiro para 5,2% no mês passado. O levantamento foi feito pela Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), que administra o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC). Apesar do aumento, atribuído ao reflexo das compras de Natal, o presidente da CDL, Vicente Estevanato, considerou o resultado normal para essa época do ano.

¿A inadimplência de fevereiro ainda reflete as compras de Natal dos consumidores, geralmente realizadas em várias parcelas, que agora estão vencendo, juntamente com outros compromissos financeiros. Além disso, é interessante destacar que fevereiro é um mês mais curto devido ao carnaval¿, afirmou Estevanato. Em fevereiro de 2008, o índice havia sido de 5,1%.

No mês passado, 131,9 mil pessoas tiveram o nome incluído nos cadastros do SPC, ficando com o nome sujo na praça. Outras 125,4 mil foram excluídas das listas, recuperando a capacidade de tomar novos empréstimos ou fazer parcelamentos. A pesquisa do SPC também tentou compor um perfil dos consumidores que entraram no grupo de inadimplentes. No DF, 54,19% deles são homens e 45,81%, mulheres.

Em relação à faixa etária, o maior número de incluídos continua entre 30 e 39 anos (27,04%), seguidos dos de 40 a 49 anos (20,29%). Os demais grupos foram distribuídos assim: entre 50 e 64 anos (14,45%), entre 25 e29 anos (16,93%), entre 18 e 24 anos (14,90%) e maior de 65 anos (5%).

O CDL informou que, para tirar o nome do cadastro de inadimplentes do SPC, o consumidor deve procurar o credor (loja, financeira ou banco onde estiver devendo) para renegociar ou pagar a dívida. Para saber se está na lista, o interessado deve procurar o balcão de atendimento da CDL no Setor Comercial Sul (SCS), Quadra 6, Bloco A, edifício CDL.

-------------------------------------------------------------------------------- Produção de aço cai 39%

A retração da demanda mundial por aço ainda castiga o setor siderúrgico brasileiro. De acordo com dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), a produção de aço bruto em fevereiro situou-se em 1,7 milhão de toneladas, volume 39% inferior ao registrado em igual mês do ano passado, mas 2,3% maior em relação a janeiro.

Na avaliação do setor, apesar de muito pequena, o aumento da produção em fevereiro já pode ser visto como um sinal positivo. ¿O simples fato de não termos registrado uma queda no volume produzido frente a janeiro já é um sinal muito positivo. A avaliação era de que o setor chegaria ao fundo do poço entre dezembro e janeiro. Apesar do crescimento ter sido pequeno, pode ser um indício de que estamos começando a sair do fundo do poço¿, afirma o vice-presidente executivo do IBS, Marco Polo de Mello Lopes.

Já nos laminados, a recuperação foi mais expressiva, apresentando elevação de 11% em relação a janeiro, para 1,1 milhão de toneladas. Em relação a fevereiro do ano passado, no entanto, houve queda e 44,3% na produção.

No que diz respeito às vendas internas, o resultado do mês passado foi de 958 mil toneladas de produtos, com expansão de 0,8% ante janeiro e queda de 47,2% na comparação com fevereiro de 2008. ¿O foco das siderúrgicas tem sido o mercado interno. Os preços no exterior estão extremamente aviltados. As medidas do governo para o setor automobilístico surtiram efeito e há a expectativa das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Coma o esforço da manutenção da oferta de crédito e a redução da taxa de juros, acreditamos que a economia pode se recuperar¿, acrescenta Lopes.

A forte briga por preço no exterior fica clara nos números das exportações no mês de fevereiro, que cresceram 8,2% em relação a janeiro, enquanto a receita caiu 31,2% no período. Comparado com fevereiro de 2008, o volume de exportações recuou 45,6% no mês passado. Lopes ressaltou, ainda, que a produção de fevereiro é impactada negativamente pelo menor número de dias úteis e o feriado de carnaval.