Título: País vive surto silencioso de violência doméstica
Autor: Otavio, Chico
Fonte: O Globo, 07/12/2008, O País, p. 10
Declaração Universal dos Direitos Humanos completa 60 anos em meio a casos cotidianos como os de Isabella e Eloá.
Trancar a porta de casa sempre dá uma sensação de segurança. Mas será que fechadura, trancas e correntes garantem a esperada proteção? Nos 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, comemorados na próxima quarta-feira, duas especialistas no assunto alertam que os lares brasileiros, tanto quanto as ruas, também são espaços de violação de direitos. Lilia Pougy, coordenadora de Pós-Graduação do Centro de Filosofia e Ciências Humanas da UFRJ, e Leila Linhares, da ONG Cidadania, Estudo, Pesquisa e Informação (Cepia), estão assustadas com as recentes demonstrações de violência em família. Para elas, é hora não apenas de o governo acordar para a questão, mas também a sociedade organizada, que precisa se convencer de que o país enfrenta um surto de violência doméstica.
Pais que agridem, violentam e matam os filhos. Filhos que matam pais. Companheiros batendo e assassinando suas mulheres. Patrões que agridem empregados. Empregados que agridem idosos e crianças. O que está acontecendo nos lares brasileiros? Lilia e Leila, embora reconheçam que o Estado ainda é o personagem central de qualquer debate sobre os direitos humanos, não acham que a população deva ser vista sempre como o outro lado do problema, no papel de vítima. A freqüência e a variedade de casos situam os lares brasileiros como espaços de violência, ainda que a maioria esmagadora dos casos não venha a público.
- A sociedade só despertou para o problema depois que Isabella Nardoni foi atirada pela janela e Eloá, fuzilada em casa. As famílias brasileiras não são iguais aos comerciais de margarina. Não podem ser vistas como instituições acima de qualquer suspeita - diz Lilia.