Título: Acidente da Gol: Legacy desligou o transponder
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Fonte: O Globo, 07/12/2008, O País, p. 17

Relatório da Aeronáutica aponta erro dos americanos e falha de controladores na tragédia que matou 154 pessoas.

BRASÍLIA.O relatório final do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), da FAB, sobre a queda do Boeing da Gol em setembro de 2006 aponta que uma falha dos pilotos Joe Lapore e Jam Paladino, do Legacy que colidiu com a aeronave brasileira, foi determinante para o acidente que matou 154 pessoas. Os americanos, inadvertidamente, desligaram o transponder, que é um ¿localizador¿ mas também alerta sobre possível choque com objetos em vôo e altera automaticamente a rota do avião.

O documento de 261 páginas não livra de culpa, porém, o controle nacional de tráfego aéreo. Ao contrário, cita vários erros desde a saída do Legacy de São José dos Campos (SP). Houve falhas no controle de tráfego sediado em Brasília (Cindacta-1) e interferência nas comunicações por uma terceira aeronave, evento considerado extraordinário pelo Cenipa. As informações foram antecipadas pelos jornais ¿O Estado de S.Paulo¿ e ¿Folha de S.Paulo¿.

Transponder ficou em stand-by

Segundo o relatório, os pilotos do Legacy desligaram o transponder (posto em stand-by) sete minutos após a passagem do jato por Brasília. Nos 58 minutos seguintes o equipamento permaneceu desligado. Ele só voltou a ser acionado três minutos após a colisão do Legacy com o Boeing sobre a Serra do Cachimbo (MT).

Os erros começaram no interior de São Paulo, quando os controladores mandaram o Legacy voar a 37 mil pés no trecho São José dos Campos-Eduardo Gomes (Aeroporto de Manaus). No entanto, como indicava corretamente o plano de vôo do trajeto, tal altitude deveria ser mantida só até Brasília, onde deveria haver a mudança para 36 mil pés.

O monitoramento de tráfego aéreo em Brasília falhou quatro vezes. Primeiro, o controlador não checou se o Legacy, ao entrar na área, passou a voar a 36 mil pés. Depois o mesmo militar informou que esta era a posição do jato ao seu substituto, na troca de turno. Os controladores também não perceberam que o transponder do jato estava desligado. Sem ele, a comunicação entre Cindacta-1 e o Legacy foi interrompida por 50 minutos. Houve sete tentativas de contato entre controladores e os pilotos, todas fracassadas. Na última tentativa, um terceiro avião acionou o sistema de chamada ao mesmo tempo.

No último erro na capital federal, quando o Legacy passou à responsabilidade do Cindacta-4 (de Manaus), a altitude informada foi mais uma vez a de 36 mil pés, embora o Legacy estivesse efetivamente a 37 mil pés, a rota usada pelo Boeing da Gol que decolara de Manaus.

Americanos ignoravam procedimentos brasileiros

O Cenipa indica ainda o despreparo dos americanos, que não teriam conhecimentos sólidos sobre o Legacy e as regras de aviação do Brasil. Em vez de seguirem o padrão internacional ¿ o plano de vôo deve ser rigorosamente seguido ¿ eles adotaram o padrão americano, pelo qual o plano de vôo é a orientação, até uma ordem em contrário.

O relatório aponta que um dos pilotos teria apenas cinco horas de vôo em Legacy e que a equipe estivera com pressa em decolar por não querer sobrevoar a Amazônia à noite. E outro fator: um dos pilotos teria também ficado 16 minutos fora da cabine do Legacy pouco antes da colisão.

A investigação concluiu que no choque o Legacy cortou 6,59 metros da asa esquerda do Boeing da Gol. Este embicou para a esquerda, nariz para baixo, e entrou em um looping de quase 12 voltas. A morte dos passageiros deve ter sido muito rápida, devido à força exercida sobre os corpos durante os giros (cinco vezes a força da gravidade).