Título: Governador Valadares em alerta
Autor: Paul, Gustavo; Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 07/12/2008, Economia, p. 32

Trabalhadores no exterior respondem por 60% do orçamento da cidade.

BRASÍLIA. Símbolo da emigração brasileira em busca do sonho americano nas últimas décadas, a cidade mineira de Governador Valadares reúne um dos principais focos de preocupação com o aumento do retorno dos brasileiros. Estudo feito em 2007 revela que 46% dos domicílios têm pelo menos um membro da família na condição de migrante internacional, a maior parte para os EUA - em 1997, esse percentual era de 18%.

A volta de uma parcela grande desse contingente terá conseqüências para a economia local, já que a remessa de dólares representa cerca de 60% da arrecadação do município, segundo levantamento da socióloga Sueli Siqueira, da Universidade Vale do Rio Doce, que se dedica ao tema da imigração. Boa parte do comércio e dos serviços da região, que abrange 25 cidades, depende dos dólares.

A pesquisa revela que o principal motivo declarado para emigrar (53,7%) foi a possibilidade de ganhar dinheiro, retornar e investir no Brasil. Dentre os que retornaram, grande parte investiu em imóveis para alugar ou tornou-se pequeno empresário nas suas cidades de origem.

Dos emigrados que voltaram desde que a crise começou a crescer, em 2007, 18% já possuem investimento suficiente para garantir renda para a sua manutenção no Brasil, e 51% retornaram com capital para investir - entre R$40 mil e R$150 mil. Mas 21% retornaram sem qualquer capital para investir.

"Antes, eu tinha dois empregos e ganhava US$20 por hora. Agora estão pagando apenas US$15 e não consigo trabalhar durante toda a semana", disse um emigrante valadarense a Sueli em julho.

Instituições dão amparo a emigrantes que retornam

O estudo demonstra que 70% dos emigrantes que retornaram e investiram em suas cidades de origem não foram bem-sucedidos. A principal razão é a falta de experiência como empreendedor e desconhecimento do mercado. Muitos já planejam emigrar para outros países.

"Vim sabendo que é difícil arranjar emprego aqui. A gente só consegue emprego merreca. Fico mais um mês para matar as saudades e vou para Portugal, tenho amigos lá", disse outro emigrante.

- Provavelmente, grande parte dos que retornam com capital para investir irá incorrer nos mesmos erros - diz Sueli.

Para tentar resolver esse problema, a cidade conta com instituições de amparo ao emigrante. Uma delas é o Centro de Informação e Assessoria Técnica (CIAAT), que orienta o emigrante e seus familiares no seu retorno e investimento.

O Sebrae local, em parceria com a Caixa Econômica Federal e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), também está montando o Projeto Remessa, voltado às famílias dos emigrados e àqueles que voltarem ao país. O projeto inclui cursos de empreendedorismo, administração de micro e pequenos negócios voltada para esse público. (Gustavo Paul e Patrícia Andrade)