Título: Febre maculosa matou engenheiro sul-africano
Autor: Jansen, Roberta
Fonte: O Globo, 08/12/2008, Rio, p. 12
Doença transmitida por carrapato não passa de uma pessoa para outra; contaminação aconteceu fora do Brasil.
Roberta Jansen
O engenheiro sul-africano William Charles Erasmus, de 53 anos, morto na terça-feira no Rio de Janeiro, foi vítima de febre maculosa - ou rickettsiose, uma doença sistêmica transmitida por carrapato e presente em diversas partes do mundo. O resultado dos testes para diagnosticar a causa da morte do empresário foi divulgado ontem em entrevista na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Como a doença não é transmissível por contato humano, as 75 pessoas que estavam sendo monitoradas foram liberadas.
- Exames laboratoriais concluídos ontem (sábado) e repetidos hoje (ontem) pela manhã mostraram que ele morreu de fabre maculosa, doença que eventualmente evolui para uma forma hemorrágica - afirmou o diretor do Departamento de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Vigilância em Saúde, Eduardo Hadge. - Descartamos, definitivamente, todas as outras hipóteses levantadas, inclusive a de arenavírus.
A partir da análise dos dados sobre o período de permanência do sul-africano no Brasil e do tempo necessário para a manifestação dos primeiros sintomas da doença, os especialistas concluíram que a contaminação não ocorreu no país. Erasmus chegou ao Brasil, proveniente da África do Sul, no dia 23 de novembro à noite e apresentou os primeiros sintomas no dia 25.
Empresário foi internado com febre hemorrágica
As manifestações clínicas da infecção pela bactéria rickéttsia surgem após um período de incubação que leva, em média, sete dias, podendo variar de um mínimo de dois a um máximo de 15 dias. Além disso, informaram, Erasmus esteve em locais em que seria altamente improvável o contato com carrapatos, como o aeroporto, o hotel e um centro de conferências.
- Como os sintomas apareceram dois dias depois de sua chegada e ele só foi do aeroporto para o hotel e, de lá, para o trabalho, não houve circunstância nem tempo hábil para que ele tivesse sido infectado aqui - afirmou o vice-presidente de Serviços de Referência e Ambiente da Fiocruz, Ary Carvalho de Miranda.
No dia 29 de novembro, depois de passar pelo Hospital Barra D"Or, o empresário acabou sendo internado na Clínica São José, com um quadro de febre hemorrágica aguda. Como ele vinha da África, onde há doenças inexistentes no Brasil, e tinha estado num hospital em que foi registrado um surto causado por um arenavírus desconhecido, especialistas traçaram as mais diversas hipóteses de diagnóstico para a febre que acometia o sul-africano.
- O diagnóstico clínico dessas febres é difícil porque, inicialmente, todas são muito parecidas, apresentando sintomas não específicos como cefaléia, febre, mal-estar, dores no corpo - explicou a pesquisadora Elba Lemos, do Laboratório de Hantaviroses e Rickettsioses da Fiocruz, que liderou a equipe que realizou os testes.
Ainda assim, no dia 1º de dezembro, os médicos que atenderam o engenheiro começaram a medicá-lo para a doença, entre outros tratamentos. Mas o paciente acabou entrando em choque e morrendo no dia seguinte.
- Aparentemente não foi um caso muito clássico; a síndrome hemorrágica não é tão comum - explicou Ary Carvalho de Miranda.
Material genético da bactéria foi analisado
Ebola, hantavirose, hepatite, leptospirose, herpes, malária e dengue foram algumas das demais hipóteses levantadas e, por isso, o caso foi tratado com alto nível de biossegurança, seguindo as recomendações internacionais. O exame feito para o diagnóstico final foi o chamado PCR, em que o material genético da bactéria é analisado. Entretanto, para que se defina qual é a espécie exata da bactéria, novos testes ainda são necessários. Na África, existem sete espécies.