Título: No Paraguai, senadores se opõem à Venezuela
Autor: Vaz, Viviane
Fonte: Correio Braziliense, 18/03/2009, Mundo, p. 20

Parlamentares devem decidir nos próximos dias se o regime de Chávez pode entrar no bloco. Centro-direita busca formas de evitar a adesão

As medidas internas polêmicas do presidente venezuelano, Hugo Chávez, respingaram outra vez no processo de adesão do país ao Mercosul. Depois de determinar na segunda-feira a intervenção federal em portos e aeroportos administrados pela oposição nos estados de Zulia e Carabobo, Chávez recebeu críticas da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP, em espanhol). A instituição divulgou ontem em Assunção (Paraguai) um comunicado no qual destaca que a situação da liberdade de imprensa piorou na região nos últimos seis meses. ¿Os governos populistas que continuam ditados pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez, intensificaram suas campanhas de abuso e ridicularização das empresas midiáticas e seus repórteres.¿

Para a Venezuela entrar de vez no Mercosul, falta apenas a resposta dos senados brasileiro e paraguaio, mas alguns partidos do Paraguai deram sinais de que não vão confirmar o novo país-membro. ¿Consideramos que as declarações e atuações do presidente Hugo Chávez em nível internacional se distanciam muito do aspecto democrático que reclama o Mercosul como um de seus pontos fundamentais¿, disse em entrevista coletiva o senador do Partido Pátria Querida (PPQ, centro-direita) Marcelo Duarte. ¿Não entrará só a Venezuela, também entrará seu regime político que é altamente conflitivo e, neste momento, a região não necessita de novos conflitos.¿

O tema está agora na Comissão de Constituição do Senado paraguaio e, na próxima quinzena, os 45 senadores da Casa devem votar se ratificam ou não a Venezuela como membro pleno do bloco. ¿Vamos analisar todos os prós e contras da presença da Venezuela como país-membro do Mercosul¿, disse ao Correio o vice-presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado paraguaio e senador pelo Partido Colorado, Orlando Fiorotto.

Segundo ele, os senadores se debruçam agora sobre a cláusula democrática do Mercosul, as intervenções em assuntos internos de outros países do continente, e as restrições ou fechamento de meios de comunicação. ¿Temos de fortalecer o Mercosul assim como está¿, afirmou o senador da bancada vanguardista do Partido Colorado, destacando que Brasil e Argentina deveriam abrir mais seus mercados aos produtos paraguaios e uruguaios e demonstrar que querem levantar as economias da região.

Enquanto os senadores de oposição prometem barrar a Venezuela, o chanceler do Paraguai, Alejandro Hamed Franco, declarou seu apoio a Caracas. ¿Não vejo por que, principalmente no Paraguai (não se aprova o pedido de entrada), se a Argentina e o Uruguai já o aceitaram. O Brasil está a caminho de aceitá-lo¿, disse. No entanto, quem preside o Senado brasileiro é José Sarney, um dos parlamentares que mais criticam o estilo de governo do venezuelano. Ambos trocam farpas desde 2007, quando Chávez acusou o Senado, em Brasília, de ser ¿papagaio de Washington¿. O protocolo de adesão da Venezuela no Mercosul foi assinado em 2006, mas até agora só os congressos de Argentina e Uruguai o ratificaram.

O próximo encontro de líderes sul-americanos será em abril, durante a Cúpula das Américas, em Trinidad e Tobago. Chávez afirmou ontem que está preparando uma ¿boa artilharia¿ para a reunião. ¿Haverá uma boa artilharia... Acho que os canhões vão ser ouvidos aqui¿, disse. O venezuelano pretende questionar a ausência de Cuba no evento e debater o bloqueio comercial dos Estados Unidos contra a ilha. O presidente dos EUA, Barack Obama, estará presente.

FARC LIBERTAM REFÉM SUECO O engenheiro sueco Erin Ronald Larsson, de 69 anos, é o último estrangeiro libertado pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Capturado no dia 16 de maio de 2007, Larson recobrou sua liberdade ontem, perto de Tierralta (a 800 km de Bogotá), zona rural do noroeste do país. Fontes locais afirmam que um grupo das Farc o entregou ao Departamento Administrativo de Segurança (DAS, a inteligência do Estado) por razões de saúde. Larsson foi levado a um hospital em Montería, no departamento de Córdoba, logo depois da libertação.

-------------------------------------------------------------------------------- Congresso sanciona reforma em lei polêmica

O Congresso venezuelano sancionou ontem uma reforma sobre a Lei de Descentralização que permitirá ao governo do presidente Hugo Chávez retomar o controle de portos, aeroportos e as estradas que considerar de interesse nacional. O partido Podemos e o bloco parlamentar Humanista votaram contra a medida, argumentando que a normativa viola os artigos 4 e 159 Constituição, que se referem ao Estado descentralizado.

No domingo passado, Chávez provocou alvoroço no país ao ordenar que a Força Armada Nacional Bolivariana (FANB) cercasse Puerto Cabello, no estado de Carabobo, e o portos de Maracaibo, no estado de Zulia, depois que os governadores opositores, Henrique Salas e Pablo Pérez, decidiram não aceitar a reforma legislativa. Chávez argumentou ainda que nesses portos operam máfias relacionadas com ¿o contrabando, o narcotráfico e a corrupção¿.

O prefeito metropolitano de Caracas, Antonio Ledezma, criticou o que considerou uma imposição do presidente. ¿Desde quando um presidente ameaça governadores e prefeitos com um tanque de guerra, com uma baioneta? O que é isso, em que país estamos?¿, questionou Ledezma. ¿Será que acham que aqui vão fazer algo como o desmembramento do país? Coloquem-se em seu lugar¿, respondeu Chávez no programa de TV e rádio Alô, Presidente. ¿Aqui estão as leis e as leis são cumpridas, ainda que vocês chiem, se joguem no chão, vão à OEA (Organização dos Estados Americanos) ou à Casa Branca pedir ajuda¿, disse Chávez.

O governador de Carabobo recorreu ao Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) contra a nova medida judicial e a perda do poder estatal sobre os portos e aeroportos. Quanto ao recurso de Salas, Chávez respondeu: ¿Faça o que quiser, lembre que mandei preparar a Operação Frango Frito¿. (VV)