Título: Tráfico ameaça um líder comunitário do Leme
Autor: Werneck, Antônio
Fonte: O Globo, 10/12/2008, Rio, p. 23

Empresário irrita bandidos com campanha contra desmatamento em Área de Proteção Ambiental do bairro.

Na véspera do 60º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, o Rio viveu ontem mais um dia de violações, mas também de protesto contra a violência urbana. Um líder comunitário do Leme denunciou ter sido ameaçado pelo tráfico, mais um mulher foi assassinada pelo marido na Baixada Fluminense e três PMs sentarão hoje no banco dos réus, acusados de assassinatos.

O empresário Sebastian Rojas Archer, de 52 anos, um dos fundadores do movimento S.O.S. Leme e há dez anos morador do bairro, foi avisado que está com sua cabeça a prêmio pelos traficantes de drogas dos morros do Chapéu Mangueira e da Babilônia. Ao contrário do Morro Dona Marta, em Botafogo, e da favela Cidade de Deus, em Jacarepaguá, onde a Polícia Militar afirma ter expulsado os bandidos, nas duas comunidades do Leme o tráfico ainda continua em plena atividade. Na semana passada, os traficantes mandaram fechar o comércio no interior da comunidade e pediram o mesmo no asfalto.

As duas comunidades estão ocupadas desde o mês de abril por oito policiais do 19º BPM, em turnos diários de 24 horas. A PM mantém um posto do Grupamento de Policiamento de Áreas Especiais (Gpae). Mesmo assim, no alto como no asfalto, o clima é tenso. Na quarta-feira passada, os serviços de vans e mototáxis foram interrompidos por ordens de traficantes. As duas comunidades foram escolhidas pela Secretaria de Segurança Pública para serem as próximas a receber o mesmo policiamento implantado no Dona Marta, que baniu o tráfico e fechou as ¿bocas-de-fumo¿.

Sebastian explicou ontem que passou a ser alvo dos bandidos depois de iniciar uma sistemática campanha contra o desmatamento na Área de Proteção Ambiental (APA) do Leme, que tem sido ameaçada pela expansão da favela. Fotografou casas de alvenaria subindo em direção à mata e denunciou uma iniciativa da Cedae para ampliar o fornecimento de água à comunidade. Segundo Sebastian, isso poderia servir de incentivo ao crescimento desordenado das duas favelas. O empresário ainda revelou que até para fazer caminhada na mata os moradores do Leme precisam ter autorização do tráfico.

¿ A idéia de pedir autorização do tráfico é um absurdo. É reconhecer o tráfico como uma entidade institucional ¿ afirmou Sebastian.