Título: BC indica que juros podem cair já em janeiro
Autor: Duarte, Patrícia; Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 11/12/2008, Economia, p. 33

Copom mantém taxa básica em 13,75% por unanimidade, mas admite que maioria discutiu corte, em reunião de 4 horas.

BRASÍLIA, SÃO PAULO e RIO. Os sinais de que já está em curso uma forte desaceleração econômica - que reduziria ainda mais o crescimento em 2009 - levaram o Banco Central (BC) a cogitar, ontem, a redução dos juros. No entanto, ao fim de mais de quatro horas de debates, diante de um cenário avaliado como muito incerto, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por unanimidade, manter inalterada a Taxa Selic em 13,75% ao ano. Mas o tom adotado no comunicado final deixou claro que a retomada do corte dos juros está próxima, podendo ocorrer, inclusive, na próxima reunião, em 20 e 21 janeiro.

"Tendo a maioria dos membros do Comitê discutido a possibilidade de reduzir a taxa básica de juros já nesta reunião, em ambiente macroeconômico que continua cercado por grande incerteza, o Copom decidiu, por unanimidade, ainda manter a taxa Selic em 13,75% ao ano, sem viés, neste momento", diz a nota do Copom.

Normalmente, o comitê apenas divulga o teor dos debates quando a ata da reunião é publicada, uma semana depois de divulgada a decisão sobre a Selic. Por isso, os analistas já começam a revisar as projeções.

- Foi quase um dissenso. O Copom quer esperar para ver como o câmbio e o quadro de desaceleração vão se consolidar. Mas é certo que a tendência (dos juros) é de queda - disse o economista-chefe do WestLB, Roberto Padovani, que esperava corte da taxa em abril e agora já espera para janeiro.

A reunião de ontem foi a mais longa desde 2006, claro indicador de divergências sobre a trajetória da política monetária. "O comitê irá monitorar atentamente a evolução do cenário prospectivo para a inflação com vistas a definir tempestivamente os próximos passos de sua estratégia de política monetária", diz a nota.

A preocupação com a escalada do dólar nos últimos meses, atualmente acima dos R$2,40, e seus reflexos sobre a inflação em alta, cresceu dentro do BC. Como seu objetivo principal é manter a inflação o mais próximo possível do centro da meta do governo, de 4,5% pelo IPCA, o mercado acredita que o dólar mais elevado pode atrapalhar.

Para analistas, risco de inflação não é tão grande

Mas esse repasse não tem ocorrido como se esperava e as expectativas para a inflação, segundo a pesquisa Focus, vêm mostrando queda. Isso tem justificado uma revisão das projeções para a Selic. Outro fator que pesa é a desaceleração econômica, que começou em outubro e parece mais acentuada do que se supunha. Isso significa menos consumo e pressão menor para reajuste de preços.

Não por menos muitos empresários e boa parte do governo - o presidente Luiz Inácio Lula da Silva à frente - pressionaram pela redução dos juros ontem. Para o economista-chefe do banco Fator, José Francisco Gonçalves, o Copom errou, até porque o risco inflacionário já não é tão grande. Ele lembra que os investimentos continuaram fortes no terceiro trimestre, com crescimento de 19,7%, ajudando a diminuir o desequilíbrio entre oferta e demanda.

A decisão do Copom foi duramente criticada por empresários e sindicalistas.

- É absurdo manter a taxa de juros em nível tão elevado, quando a inflação está sob controle e precisamos lutar para impedir uma queda brusca do crescimento - disse o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf.

Para o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, a Selic a 13,75% é um desastre para o país. Segundo ele, juros tão altos só aumentam o clima de incerteza e pessimismo entre os empresários. Miguel Torres, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes, considerou a decisão desastrosa.

Mesmo com a manutenção da Selic, o juro ao consumidor deve continuar a subir, sob o argumento de risco maior de inadimplência. Essa é a avaliação da diretora de estudos e pesquisa do Procon de São Paulo, Valéria Rodrigues Garcia. Segundo o órgão, a taxa média dos dez principais bancos no empréstimo pessoal atingiu 6,25% ao mês, em pesquisa feita dia 2 de dezembro. Já no cheque especial, os juros atingiram 9,33% ao mês.

Foi o terceiro mês consecutivo de alta do crédito pessoal e o segundo no cheque especial, ainda que a Selic - usada como argumento para os altos juros bancários - esteja em 13,75% desde setembro. Em novembro, as taxas médias eram de 6,15% e 9,24% ao mês, respectivamente.

Juros ao consumidor devem continuar subindo

Segundo o Procon, elevaram as taxas do empréstimo pessoal Santander (de 6% para 6,69% ao mês) e Unibanco (de 6,59% para 6,99%). No cheque especial, elevaram os juros Unibanco (8,59% para 8,99% ao mês), HSBC (9,25% para 9,65%) e Santander (9,70% para 9,85%).

Seguindo a determinação do governo de usar os bancos públicos para forçar uma redução do custo dos empréstimos e não deixar secar o crédito para empresas e pessoas físicas, a Caixa Econômica decidiu reduzir juros e alongar prazos de pagamento de várias modalidades. As novas condições entram em vigor até o fim desta semana.

Na linha de financiamento de máquinas e equipamentos, por exemplo, voltada para micro e pequenas empresas, o prazo de pagamento do empréstimo pulou de dois anos para cinco anos. Também foi concedido um prazo de carência, que não existia, de 12 meses. A taxa de juros caiu de 4,07% ao mês para 1,95% (máxima) e a mínima, que estava em 3,18% ao mês, ficou em 1,10%. O crédito para pessoa física (CDC) automático, que tinha limite de 24 meses para pagamento, foi ampliado para 36 meses. Quem optar por esse prazo pagará juros menores, de 3,50% ao mês, contra 4,53% ao mês em dois anos.