Título: Solução latina para aquecimento
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 11/12/2008, Ciência, p. 38
Banco Mundial diz que países ricos devem financiar projetos latino-americanos.
Ao destacar ontem a América Latina como a região com maior capacidade de implementar soluções inovadoras para evitar uma crise climática, em especial devido ao papel que a Amazônia representa no equilíbrio ambiental do planeta, o Banco Mundial (Bird) colocou nos ombros dos países ricos a maior responsabilidade sobre o desastre ambiental que se avizinha, caso não forem tomadas medidas urgentes para estancar a deterioração.
Num detalhado estudo, o Bird diz que é hora de as nações mais avançadas - e que são, sem dúvida, as maiores poluidoras - passarem a financiar o Brasil e outros países da região, de forma a que possam preservar as áreas tidas como pulmões do mundo. De 1850 a 2004, a energia cumulativa relacionada às emissões dos países ricos, per capita, foi mais de doze vezes mais alta do que nos países em desenvolvimento. Embora as nações mais avançadas tenham apenas 20% da população mundial, elas foram as responsáveis por 75% da energia cumulativa relacionada às emissões de CO2 desde 1850.
A América Latina produz apenas cerca de 6% das emissões mundiais de gases-estufa relacionadas ao fornecimento de energia; ou apenas 12% do volume total emitido por todas as fontes, incluindo o desmatamento e a agricultura, segundo o relatório. "Isso tudo leva muitos observadores a concluírem que os países ricos devem assumir uma parcela bem maior do custo associado à redução global das emissões de gases que causam o efeito estufa", diz um trecho do estudo do Bird intitulado "Baixas emissões de carbono, alto crescimento: A resposta da América Latina para a crise".
Segundo os pesquisadores do Bird, a resposta global à ameaça crescente de uma crise climática precisa ser equitativa, "com uma responsabilidade diferenciada". Uma das suas conclusões é que "os países em desenvolvimento já enfrentam o desafio da redução da pobreza e são os mais vulneráveis e menos capazes de se adaptar aos efeitos adversos das mudanças climáticas. Quase não se pode esperar deles que suportem o peso adicional de reduzir as suas emissões de gases do efeito estufa".
Pamela Cox, vice-presidente do Bird para a América Latina, vê uma grande oportunidade de aumento de arrecadação para a região nos investimentos que os países ricos venham a fazer, dirigidos especificamente à preservação do meio ambiente e também a incentivar um desenvolvimento econômico através da adoção de políticas "verdes", com preocupação climática.
- Essa abordagem poderia apoiar simultaneamente a recuperação econômica e estimular o crescimento nas áreas que atenuam o impacto das mudanças climáticas - disse ela, durante a divulgação do estudo. - É preciso levar em conta, ainda, que projetos com preocupação ambiental também servem para gerar mais empregos.
Recessão pode adiar investimento
Ao seu lado, o economista-chefe do Bird, Augusto de la Torre, fez um alerta. Ele disse que para atrair investimentos que ajudem a proteger o meio ambiente, a América Latina precisa se organizar melhor. Mesmo porque, diante da atual crise financeira mundial, ainda pode demorar para que surjam volumes substanciais de capital para esse tipo de investimentos:
- Embora haja um crescente interesse dos países ricos em investir na solução de problemas como a crise climática, não será fácil aumentar os investimentos em tecnologias verdes.
Além da escassez de dinheiro no mercado, um outro fator poderia fazer com que os ricos adiassem ainda mais os investimentos que poderiam ajudar a América Latina a manter um meio ambiente melhor que o atual: a queda no preço do petróleo. Isso poderia esvaziar também a atual preocupação em se produzir veículos híbridos, em especial nos Estados Unidos - os maiores poluidores - "além de criar incentivos políticos para adiar esforços para reduzir a tendência das emissões", segundo o Bird.