Título: Governo usará reservas para ajudar empresas no exterior
Autor: Batista, Henrique Gomes; Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 12/12/2008, Economia, p. 32

Até US$20 bi serão emprestados a companhias com dívidas.

BRASÍLIA. O governo decidiu emprestar recursos das reservas internacionais para as empresas brasileiras que têm dívidas contraídas no exterior com vencimento em 2009. Até US$20 bilhões serão usados, segundo a expectativa do governo. Todo o empréstimo, entretanto, será feito por meio de instituições financeiras - ou seja, os bancos emprestam recursos para as firmas rolarem suas dívidas e, por sua vez, poderão realizar empréstimos do mesmo valor diretamente com o Banco Central (BC).

Desde que a crise piorou, os financiamentos externos praticamente pararam. Empresas grandes, como a Petrobras, tiveram que recorrer ao mercado interno para se financiar.

Na quarta-feira, as reservas do Brasil somavam US$206 bilhões. Segundo o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, a medida, que será aprovada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), mantém os níveis de reserva, pois as operações terão menos de um ano.

- Com menos acesso ao crédito externo, na medida em que a rolagem de empréstimos externos está baixa, as empresas substituem esses empréstimos externos por empréstimos internos e portanto, vão ao mercado doméstico e tomam empréstimos em reais, pressionando os custos e a disponibilidade de crédito (no Brasil).

Segundo uso de reservas desde agravamento da crise

A operação poderá ser feita com bancos brasileiros autorizados a atuar no mercado de câmbio e instituições estrangeiras com risco mínimo AA, consideradas mais sólidas. O BC cobrará das instituições uma taxa ainda a ser fixada, mas que tem como base a taxa londrina Libor, mais 3% ou 4%.

Esta não é a primeira vez, desde setembro, que o governo autoriza o uso de reservas internacionais. O CMN havia permitido, com a Medida Provisória (MP) 442, operação semelhante, mas apenas para os exportadores, garantia de contratos de adiantamento de câmbio.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que a disposição do governo é cobrir integralmente os cerca de US$18 bilhões em dívidas privadas que vencem em 2009, além de adicional entre 20% e 25%, já que, em geral, as empresas rolam mais que o vencimento da dívida. Ele explica que o governo pode se beneficiar da medida, já que trocará parte da reserva em títulos de outros países, com baixa remuneração, por empréstimos que pagam juros maiores.