Título: Delúbio quer ser deputado do PT
Autor: Rothenburg, Denise; Brito, Ricardo
Fonte: Correio Braziliense, 19/03/2009, Política, p. 09

Ex-tesoureiro aparece na Câmara e pede reintegração ao ninho petista para se candidatar em 2010

O ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares quer se candidatar a deputado federal pelo partido do qual foi expulso em 2005. Conhecido nacionalmente depois ter confessado que operou o caixa 2 petista ¿ que ele chamou na época de ¿recursos não contabilizados¿ ¿, Delúbio esteve ontem em Brasília e conversou pessoalmente com o presidente do PT, Ricardo Berzoini, e com o líder do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP), sobre sua intenção de voltar à legenda até outubro deste ano, prazo final para a filiação partidária de quem pretende se candidatar nas eleições de 2010.

Delúbio entregou a Berzoini uma carta em que pede a reconsideração de seu processo de expulsão. No pedido, quer sua ¿refiliação como simples militante¿ e sustenta que os mais de três anos em que está formalmente afastado do partido ¿é muito tempo¿. Um dos fundadores da legenda, o ex-tesoureiro do PT considera que ¿nunca saiu do partido¿ nesse período. ¿Meu coração é petista¿, escreveu.

À tarde, Delúbio conversou reservadamente com Vacarezza no gabinete do líder petista na Câmara. Na saída, foi surpreendido com os jornalistas de prontidão, que descobriram sua inesperada visita. Recuou e fechou a porta. Passado um tempo, abriu-a e, respirando fundo, caminhou com um largo sorriso até a chapelaria da Câmara, onde embarcou num Vectra prata guiado por um motorista. Diante das perguntas dos jornalistas durante o trajeto, repetiu à exaustão: ¿Não estou dando entrevistas¿.

A carta entregue por Delúbio a Berzoini será levada agora ao diretório nacional, a quem cabe dar o veredicto sobre o futuro dele. Nos bastidores, comenta-se que atender ao desejo do ex-tesoureiro petista será tarefa árdua porque não há fato novo que justifique a refiliação. Com humildade, Delúbio tem reconhecido sua dificuldade, mas tem um trunfo: a emoção. Ele pretende procurar todos os integrantes do Diretório Nacional até maio, mês em que o colegiado deve discutir o pedido de reconsideração.

Julgamento Integrante do diretório, o líder do PT na Câmara vê com simpatia a intenção de Delúbio de tentar voltar ao partido. ¿Sou defensor do estado democrático de Direito¿, disse Vacarezza, quando perguntado se é favorável à volta do ex-tesoureiro petista. ¿Não acho que nenhum julgamento deve ser feito com emoção, mas sim à luz de fatos concretos,¿ ressaltou, numa crítica indireta ao que ele considera rápido processo de expulsão dele. ¿Ele (Delúbio) acha que teve uma pena maior do que merecia¿, comentou.

Em Goiás, há tempos o ex-tesoureiro tem agenda de político. Fez campanha em outubro passado ao lado do, mais uma vez, prefeito de Goiânia, Íris Resende (PMDB). Subiu em vários palanques nas eleições, mas não conseguiu reeleger seu irmão Carlos Soares vereador por Buriti Alegre, sua cidade natal.

Em 24 de outubro de 2005, o Diretório Nacional do PT aprovou a expulsão de Delúbio por 37 votos, 16 pela suspensão de três anos e três abstenções. À época, o relatório da Comissão de Ética da legenda afirmou que o então tesoureiro petista ¿colocou em risco a segurança institucional do PT¿. Pouco depois de ter sido expulso, Delúbio, que cunhou a expressão ¿recursos não contabilizados¿ para caixa 2, disse que as denúncias contra ele ¿seriam esquecidas¿ e acabarão virando ¿piada de salão¿. O ex-tesoureiro petista é alvo de, pelo menos, 10 ações judiciais por formação de quadrilha, corrupção ativa e improbidade administrativa.